Está aqui

As vacinas produziram mais 9 multimilionários

Em conjunto, estas 9 pessoas conseguiram ver a sua fortuna aumentada em 19,3 mil milhões de dólares. Seriam apenas números, iguais a tantos outros que nos demonstram a sempre crescente desigualdade no mundo, não fosse a tragédia que se vive em alguns países mais pobres com a pandemia.

Há, pelo menos, mais 9 multimilionários no mundo, à custa das vacinas contra a Covid-19. Em conjunto, estas 9 pessoas conseguiram ver a sua fortuna aumentada em 19,3 mil milhões de dólares. Para além destes, existem ainda 8 multimilionários, que já o eram, mas que conseguiram aumentar a sua fortuna em 32,2 mil milhões de dólares. Seriam apenas números, iguais a tantos outros que nos demonstram a sempre crescente desigualdade no mundo, não fosse a tragédia que se vive em alguns países mais pobres com a pandemia.

Morreram 3 milhões e meio de pessoas com Covid-19, até agora. Na Índia há 27 milhões de infetados e 320 mil mortos. Há 130 mil mortos em África. Na América do Sul vamos a caminho dos 800 mil mortos.

Ao Sul Global chegaram apenas 0,2% das vacinas até hoje produzidas. Só com os 19 mil milhões de dólares dos 9 novos multimilionários era possível vacinar toda população dos países em desenvolvimento 1,3 vezes! Com os 32 mil milhões de dólares dos 8 já multimilionários, era possível vacinar toda a população da Índia. Apenas 17 pessoas conseguem ficar com todo o dinheiro necessário para produzir e distribuir vacinas para todo o mundo em desenvolvimento. E impedir os milhares de mortos que todos os dias se acumulam.

Que o governo português mantenha uma posição sobre patentes que apenas defende a fortuna pessoal de 17 indivíduos, dos quais nenhum é português e de cujas fortunas não entrará um cêntimo no nosso país, isso sim, é inexplicável

Quem são estes novos multimilionários? Em primeiro lugar, o CEO da Moderna, Stéphane Bancel, que acumula agora fortuna pessoal que ascende aos 4,3 mil milhões de dólares. A Moderna recebeu fundos do governo norte-americano (dos contribuintes norte-americanos) que cobrem praticamente 100% dos custos de desenvolvimento da vacina. Para além dos já desatualizados 8 mil milhões de dólares em contratos-promessa, só nos Estados Unidos. Em segundo lugar aparece Ugur Sahin, o CEO da BioNTech, com uma fortuna de 4 mil milhões de dólares. Empresa alemã que recebeu da Comissão Europeia mais de 370 milhões de euros em subsídios.

Os dados foram colhidos pela UNAIDS, a Oxfam e a Global Justice Now e são tão obscenos que já levaram o presidente norte-americano a juntar-se a mais 100 presidentes de países, o Papa e mais 100 prémios Nobel para pedirem a suspensão das patentes. Que a Alemanha defenda a fortuna pessoal da família Struengmann, investidores da BioNTech que com as vacinas viram a sua fortuna aumentada de 9,6 mil milhões para 11 mil milhões, é obsceno mas ainda conserva uma lógica de favorecimento pessoal. Que o governo português mantenha uma posição sobre patentes que apenas defende a fortuna pessoal de 17 indivíduos, dos quais nenhum é português e de cujas fortunas não entrará um cêntimo no nosso país, isso sim, é inexplicável.

Sobre o/a autor(a)

Médico neurologista, ativista pela legalização da cannabis e da morte assistida
(...)