Em agosto de 2017, Dana Rohrabacher, então congressista republicano, dirigiu-se à embaixada do Equador em Londres onde Julian Assange se encontrava refugiado. Conhecido por ser, para além de ultra-conservador, defensor acérrimo da política de Putin, o congressista falou ao fundador dos Wikileaks num “negócio”: em troca de declarações que ilibassem a Rússia do roubo de e-mails do Partido Democrata nas eleições presidenciais anteriores, poder-lhe-ia vir a ser oferecido um perdão presidencial.
Até aqui toda a gente concorda na história. Rohrabacher confirma o encontro, fez declarações públicas nessa altura em que dizia “falámos sobre o que poderia ser necessário para libertá-lo” e reitera que a proposta foi feita. Só que diz que apenas se propôs a levar a informação a Trump e recusa ter sido enviado por ele.
Esta quarta-feira, um dos advogados de Julian Assange, Edward Fitzgerald, revelou uma história diferente: Dana Rohrabacher fez uma proposta explicitamente em nome de Trump que foi recusada pelo fundador dos Wikileaks. O advogado acrescenta que tal será invocado pelo próprio Assange nas audições do processo de extradição para os Estados Unidos onde enfrenta acusações de espionagem cuja pena pode ir até 175 anos de prisão. O argumento central de Assange permanece o mesmo: enquanto jornalista divulgou documentos que lhe chegaram, tem direito à liberdade de expressão e não divulga as suas fontes.
A revelação pelo Wikileaks dos e-mails do Comité Nacional Democrata foi uma das armas de arremesso contra a campanha de Hillary Clinton em 2016. Seguiram-se investigações a interferência russa nas eleições e a ligação de Trump a isso. Os serviços secretos norte-americanos fizeram saber que acreditam que tenha havido esta interferência. Na investigação federal conduzida por Robert Mueller não ficou provado que a campanha de Trump tenha estado envolvida no caso.
Assange vítima de tortura psicológica
Entretanto, para a semana vão começar as audições definitivas do caso de extradição que se arrastarão até maio. Assange continua detido em Inglaterra e as condições desta detenção são colocadas em causa por médicos e pelos Repórteres sem Fronteiras.
117 médicos de 18 países publicaram na revista médica The Lancet um carta na qual acusam o governo britânico de “tortura psicológica” por não lhe ser dado acesso devido a cuidados de saúde. Escrevem mesmo que “se Assange viesse a morrer numa prisão britânica, ele teria sido efetivamente torturado até à morte”. Há, no caso, “uma politização dos princípios fundamentais da medicina”, denunciam, exigindo o fim da “tortura de Assange” e a garanti de “acesso aos melhores cuidados, antes que seja demasiado tarde”.
Também os Repórteres Sem Fronteiras lançaram uma petição que conta já com dezenas de milhares de assinaturas contra a extradição de Assange.