Esta quarta-feira, Donald Trump avançou com uma guerra tarifária que atinge a União Europeia ao aumentar as taxas de importação sobre aço e alumínio. As importações destes metais para os EUA passam a estar sujeitas a tarifas de 25%, estendendo-se os impostos a centenas de produtos derivados como porcas, parafusos, lâminas de escavadoras ou latas de refrigerante.
A presidente da Comissão Europeia Ursula von der Leyen, anunciou como resposta tarifas sobre produtos dos EUA no valor de 26 mil milhões de euros a partir do próximo mês, apelando ao desescalar do conflito: “Permaneceremos sempre abertos à negociação. Acreditamos firmemente que, num mundo repleto de incertezas geo-económicas e políticas, não é do nosso interesse comum sobrecarregar as nossas economias com tais tarifas”.
A resposta da UE está a ser encarada como contida. Até porque estas exportações para os EUA são consideradas pouco expressivas, constituindo apenas 0,02% do total. Daí que os produtos escolhidos para retaliar também não sejam dos mais importantes dentro do comércio com aquele país, incluindo diamantes, fio dentário, bourbon, maquilhagem e roupões de banho, cuja escolha permanece injustificada.
Ainda assim, alguns países e vários setores económicos europeus já se começaram a movimentar, pressionando para os seus produtos principais não corram riscos de represálias. É o caso do setor dos cosméticos francês, cujo chefe do patronato, Emmanuel Guichard, se veio queixar do “enorme risco” de retaliação numa guerra em que “não queremos fazer parte” já que a França importa perto de 200 milhões de euros em produtos de beleza dos EUA por ano mas exporta cerca de 2,5 mil milhões. Por outro lado, França, Espanha e Itália pediram à Comissão Europeia para excluir da lista de produtos sobretaxados o vinho e outras bebidas alcoólicas segundo um executivo do setor disse à Reuters.
O caso com o Canadá é substancialmente diferente. Este país é o maior fornecedor dos EUA de aço e alumínio. E a ameaça inicial era que fossem duplicadas as taxas sobre estas importações para 50%. Depois da região de Ontario anunciar suspender um aumento de tarifas de 25% sobre as exportações de eletricidade, Washington recuou nesta ideia mas o Estado vizinho continua a sofrer com o aumento de 25%.
Desta forma, o governo canadiano enveredou pelo mesmo caminho que a UE ao anunciar tarifas retaliatórias no valor de 29,8 mil milhões de dólares canadianos. Também foi apresentada uma lista de produtos afetados pelas contra-tarifas que inclui ferramentas, computadores e servidores, monitores de vídeo, esquentadores, equipamento desportivo e produtos de ferro fundido.
Um caminho diferente foi escolhido pela Austrália, que não retaliou apesar de se ter queixado que a medida de Trump era “contra o espírito da amizade duradoura entre as nossas duas nações”. Para além destes, outros países como o Brasil, o México e a Coreia do Sul também serão afetados pela subida de taxas destes metais.
Claudia Sheinbaum, presidente do México, não avança para já e espera uma possível alteração de ideias dos EUA nos próximos dias. Fixou o prazo de 2 de abril para decidir.
O Brasil seguiu a mesma via, Fernando Haddad, ministro das Finanças, também prefere esperar e negociar nas próximas semanas. Até porque também o Brasil é um grande exportador de aço, tendo vendido 4,3 milhões de toneladas a este país em 2024.
EUA acusam Europa de colocar segurança internacional em causa, Trump critica Irlanda com primeiro-ministro do país ao lado
Do lado do governo dos EUA, Howard Lutnick, secretário do Comércio, ameaça juntar o cobre a esta lista. E Jamieson Greer, representante de Comércio dos Estados Unidos, acusa a União Europeia de “durante anos” interferir com “os esforços dos Estados Unidos de reindustrializar”. Quanto à resposta europeia às suas tarifas, refere “uma ação punitiva que desrespeita completamente os imperativos de segurança dos Estados Unidos – e na verdade a segurança internacional – e é mais outro indicador que as políticas económicas e comerciais da UE estão desfasadas da realidade”.
Por sua vez Trump, com Micheál Martin, primeiro-ministro irlandês, ao lado no âmbito de uma visita de estado, criticou a política daquele país de ser um paraíso fiscal para o qual fugiram várias empresas norte-americanas.
O presidente estadunidense diz que os EUA foram “estúpidos durante muitos anos” e “não só com a Irlanda, com toda a gente”. Ele, assegura, teria usado tarifas para impedir que as empresas do seu país se passassem a sediar na Irlanda à procura de escapar aos impostos: “por exemplo, quando a indústria farmacêutica começou a ir para a Irlanda, eu teria dito, tudo bem, se quiserem ir para a Irlanda, acho que é ótimo, mas se quiserem vender qualquer coisa nos Estados Unidos, vou impor-lhes uma tarifa de 200%, para que nunca possam vender nada para os Estados Unidos. Sabe o que eles teriam feito? Eles teriam ficado aqui”, argumentou.