Trabalhadores da construção também se queixam de falta de proteções

03 de abril 2020 - 9:25

Se não forem tomadas medidas, “a construção civil poderá ser um dos setores onde podem morrer mais pessoas”, avisa o presidente do Sindicato da Construção de Portugal, que exige testes bissemanais nas obras públicas e privadas.

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trabalhador da construção civil
Foto de Paulete Matos

Há vários dias que Albano Ribeiro vem alertando para a situação preocupante que vivem os trabalhadores da construção civil, em consequência do surto pandémico. Na maioria das obras não há materiais de proteção, há trabalhadores infetados que continuam a trabalhar e as orientações ao nível da mobilidade não estão a ser cumpridas. O presidente do Sindicato da Construção dá como exemplo os trabalhadores que regressaram de França e Espanha e estão agora a trabalhar em Portugal sem terem sido testados, ou os trabalhadores transfronteiriços que todos os dias, ou pelo menos aos fins de semana, viajam entre Portugal e Espanha, sem qualquer controlo.

Um dos casos apontados é o do estaleiro do Plano Hidroelétrico do Alto Tâmega, da Iberdrola. Segundo o presidente do sindicato, nesta obra estavam a trabalhar cerca de 300 pessoas. Agora estão apenas 100 porque os outros foram embora com medo e os que continuam a trabalhar também o fazem com medo. “Eu estive nas obras da Iberdrola esta semana e verifiquei por mim que não há testes nenhuns aos trabalhadores, nem máscaras têm para os trabalhadores, e circulam em carrinhas de nove lugares, completos, quando deviam no máximo levar cinco pessoas”, denunciou Albano Ribeiro

“É vergonhoso que isto esteja a acontecer numa obra pública. As barragens vão ser cedidas à exploração da Iberdrola, mas o dono da obra é o Estado português”, apontou o sindicalista. Neste setor há patrões que estão a tomar precauções e estão sensibilizados para a situação de crise sanitária, mas, segundo o sindicato, há casos em que os trabalhadores foram despedidos por terem exigido máscaras e luvas, sobretudo no caso dos trabalhadores precários, sem vínculo ou clandestinos.

Albano Ribeiro defende que os trabalhadores da construção devem ser testados duas vezes por semana, quer nas obras públicas quer nas privadas e que o incumprimento das medidas de proteção deve levar à interrupção da actividade. E avisa que “80% a 90% do sector está a trabalhar, mas de uma forma que não pode continuar. Não queremos isso, mas se nada for feito ele vai parar de outra forma.”