Os trabalhadores da Altice Portugal estão preocupados com as notícias da venda da empresa a fundos de investimento. A empresa não presta esclarecimentos, mas vários órgãos de comunicação foram dando conta do seu interesse em vender e de que há interesse de vários fundos de investimento, nomeadamente por parte da Saudi Telecom, propriedade maioritariamente do fundo soberano da Arábia Saudita, e da empresa de “private equity” norte-americana Warburg Pincus, que se teria juntado ao ex-administrador do Credit Suisse, António Horta Osório, para esse processo.
A este propósito, o Jornal de Negócios contactou sindicatos e comissão de trabalhadores. Jorge Pinto, coordenador da Comissão de Trabalhadores da Meo, considera que “os fundos não têm uma estratégia para as telecomunicações. Era preferível [a venda] a uma empresa com matriz de telecomunicações, porque deveria ter um racional tecnológico. Os fundos servem para fazer dinheiro”.
Sobre Horta Osório, diz-se que é “merece total respeito” mas que ser português não é decisivo porque “Armando Pereira também foi visto na altura como o herói de Vieira do Minho, que vinha salvar a Portugal Telecom, e a operação Picoas vem mostrar que se calhar não foi assim um negócio tão bom para o país”.
Em caso de se concretizar a venda a um fundo deste tipo, defende que o país deve fazer o mesmo que o Estado espanhol fez no caso da Telefónica. Este permitiu a compra por parte da holding que gere as participações do Estado em empresas, a SEPI, de 10%. “A partir do momento em que o Estado espanhol faz esse tipo de proteção a empresas de tecido nacional, Portugal deveria considerar exatamente a mesma posição”, esclarece.
Ouvido pelo mesmo órgão de comunicação social, Jorge Félix, presidente do Sindicato dos Trabalhadores do Grupo Altice, o STPT, admite “preocupação” com as notícias e porque “sabemos que os fundos só pensam no lucro”. Para ele, a ser vendida, será sempre preferível que sejam empresários portugueses a adquirir do que estrangeiros. Será muito mais próximo e acessível sendo um empresário português”. Mas “o Estado assumir controlo seria o ideal”. Assim não sendo, “deve ter ou deveria ter preocupações a quem vai ser vendida”. Acrescenta-se ainda na notícia que “da parte do Sindicato Democrático dos Trabalhadores dos Correios, Telecomunicações, Media e Serviços (Sindetelco)”, a compra “por parte de um fundo também não é vista com bons olhos”.
Trabalhadores vão passar a ser assistentes no caso da Operação Picoas
No mesmo dia, a Comissão de Trabalhadores da Meo anunciou em comunicado que se vai constituir assistente na Operação Picoas “em prol da transparência, justiça e defesa dos interesses dos trabalhadores da Meo, visando assegurar a recuperação do património subtraído”.
Critica-se ainda que “transparência e colaboração da administração da Altice Portugal têm estado notoriamente ausentes”
Ao Jornal Económico, Jorge Pinto confirmou que foi isso que “reforçou a nossa convicção de que é essencial nos constituirmos assistentes no processo. Ao prejudicarem a empresa, afetaram várias gerações de trabalhadores que contribuíram para o que era a Portugal Telecom”.
Neste caso estão ser investigados negócios que poderão ter lesado a empresa em perto de 100 milhões de euros. Armando Pereira, co-fundador do grupo Altice, e Hernâni Vaz Antunes, apontado como o seu braço direito, foram detidos a 13 de julho e houve perto de 90 buscas domiciliárias e não domiciliárias.