Até ao final deste século as mortes na Europa devidos a temperaturas extremas podem vir a aumentar até 50%. Serão 2,3 milhões de mortes a mais que o continente vai enfrentar caso não haja uma redução muito significativa de emissões de gases com efeito de estufa e mudanças profundas nas políticas de mitigação.
O artigo Estimating future heat-related and cold-related mortality under climate change, demographic and adaptation scenarios in 854 European cities, publicado na revista científica Nature Medicine, analisa como as alterações climáticas afetarão 854 áreas urbanas de 30 países em vários cenários climáticos, demográficos e de adaptação. No pior deles, com pouca mitigação, a “carga líquida de mortes devido às alterações climáticas aumenta 49,9%”.
O estudo sugere ainda diferenças no continente com uma “elevada vulnerabilidade nas regiões do Mediterrâneo e da Europa de Leste” e alerta-se: “a menos que sejam implementadas fortes medidas de mitigação e adaptação, a maioria das cidades europeias deverá sofrer um aumento da carga de mortalidade relacionada com a temperatura”.
Citado pelo Público, Pierre Masselot, o primeiro autor da investigação, investigador da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres, explica que “Portugal tende a ser vulnerável ao frio para um país do Sul, o que está possivelmente relacionado com o clima atlântico, mas também com a pobreza energética. Por conseguinte, assistiríamos a uma diminuição importante das mortes relacionadas com o frio (mais do que noutros países do Sul), mas ainda assim inferior ao aumento das mortes relacionadas com o calor”.
Por isso, o cientista não considera que Portugal seja “parte dos pontos críticos da zona mediterrânica, uma vez que registámos ali aumentos menores do que, por exemplo, no Leste de Espanha ou de Itália”.
De acordo com estudo, o aquecimento pode fazer cair a mortalidade por frio extremo. Mas o aumento de mortes pelo calor mais que compensa esse efeito. As provas sobre isto são consideradas “irrefutáveis” e aplicam-se a todos os cenários estimados. Mesmo no cenário mais otimista, que parece quase impossível de concretizar, com o aquecimento global a manter-se abaixo dos 2 graus Celsius, a falta de adaptação levará a que as mortes por calor ultrapassem as por frio em 12 por 100 mil pessoas por ano no período 2050-2054.
Aquecimento dos oceanos já quadruplicou em apenas 40 anos
Um outro estudo, intitulado Quantifying the acceleration of multidecadal global sea surface warming driven by Earth's energy imbalance, e dirigido por Chris Merchant, professor do Centro Nacional para a Observação da Terra, da Universidade de Reading, em Inglaterra, prova que as temperaturas dos oceanos no final da década de 1980 aumentavam 0,06 graus celsius por década e neste momento aumentam 0,27 graus por década. Ou seja, a taxa de aquecimento dos oceanos mais do que quadruplicou.
O cientista explicou que “se os oceanos fossem uma banheira de água, então, na década de 1980, a torneira quente estava a correr lentamente, aquecendo a água em apenas uma fração de grau a cada década. Mas agora a torneira quente está a correr muito mais depressa e o aquecimento acelerou. A forma de abrandar esse aquecimento é começar a fechar a torneira de água quente, cortando as emissões globais de carbono e avançando para o zero líquido”.
O desequilíbrio energético da Terra, absorvendo mais energia do Sol do que a que escapa, quase duplicou desde 2010. Parte da responsabilidade disso cabendo ao aumento de concentrações de gases com efeito de estufa e também ao facto da Terra refletir menos luz solar para o espaço do que anteriormente.
Durante 450 dias seguidos, em 2023 e início de 2024, as temperaturas dos oceanos atingiram níveis recorde.