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Suisse Secrets: Como o Credit Suisse escondeu dinheiro do crime

Uma nova fuga de informação revelou dados sobre milhares de contas no banco suíço. Jornalistas identificaram dezenas de criminosos entre os titulares. Álvaro Sobrinho e Helder Bataglia são os clientes portugueses a contas com a justiça.
Foto Btina Widmer/Flickr

A mais recente fuga de informação a expor a falta de escrúpulos dos bancos em aceitar clientes suspeitos foi batizada com o nome Suisse Leaks e levou a uma investigação jornalística que durou meses e envolveu mais de 160 jornalistas de 48 órgãos de comunicação em 39 países.

Em Portugal, o Expresso associou-se ao consórcio OCCRP (Organized Crime and Corruption Reporting Project) para trabalhar os dados enviados por um lançador de alerta sob anonimato ao jornal alemão jornal Süddeutsche Zeitung. E descobriu mais de 100 clientes com nacionalidade portuguesa, embora apenas dois visados pela justiça por causa da fraude do Grupo Espírito Santo e da evasão fiscal organizada do caso “Monte Branco”. São eles o luso-angolano Álvaro Sobrinho, ex-CEO do Bes Angola e Hélder Bataglia, fundador da Escom, o braço não financeiro do Grupo Espírito Santo em Angola. O semanário verificou todos os nomes com nacionalidade portuguesa, tendo descoberto uma dezena de emigrantes na Venezuela, duas dezenas de chineses e dezenas de cidadãos africanos com dupla nacionalidade.

A fuga de informação abrange contas abertas no Credit Suisse entre 1940 e 2010, com o Expresso a estranhar não ver incluído o nome de Ricardo Salgado, quando são conhecidas as contas de empresas que controlava abertas naquela instituição bancária. Ainda segundo o jornal, entre as companhias offshore que são titulares das 12 contas de Álvaro Sobrinho referidas nos Suisse Secrets, sete estão implicadas diretamente nos desvios do BES Angola. Sobrinho e Bataglia partilhavam várias contas no Credit Suisse que foram destino de dinheiro desviado do banco angolano dos Espírito Santo. O banco suíço continuou a permitir a circulação de milhões por essas contas mesmo depois de ter rebentado o escândalo Monte Branco em 2012 e do próprio Sobrinho ter sido alvo de arresto em 2009.

A nível internacional, entre os clientes do Credit Suisse encontram-se pessoas como o egípcio Omar Suleiman, chefe dos serviços secretos da ditadura de Hosni Mubarak, o general argelino Khaled Nezzar, que está a ser julgado na Suíça por crimes de guerra, uma rede búlgara de tráfico de cocaína, em que o banco é acusado de ajudar à lavagem de dinheiro ou políticos e funcionários venezuelanos envolvidos em esquemas de corrupção com a petrolífera estatal PDVSA. José Filomeno dos Santos, filho do ex-presidente angolano e António Gomes Furtado, atual presidente da Bolsa de Valores de Angola são outros detentores de contas milionárias no banco suíço.

A prática de fechar os olhos à origem do dinheiro depositado era generalizada no banco, segundo testemunhas ouvidas pelo OCCRP, que dizem que “o departamento de compliance do banco é mestre da negação plausível”. Além disso, “os detentores de grandes contas vão diretamente para os gestores de topo, e não passam pelo sistema bancário privado normal”, diz um executivo.

A proteção oferecida pela legislação suíça no que diz respeito ao segredo bancário atraiu muito capital com origem suspeita às suas instituições bancárias. Só mais recentemente foram postos em prática mecanismos de troca de informações com as autoridades de vários países e isso pode explicar que na lista de clientes agora divulgada não haja muitas pessoas de países como os EUA, Rússia, China ou Brasil, que têm acordos desse tipo. Em contrapartida, clientes de países que não aderiram a esses acordos, como a Ucrânia, Venezuela e Egito, estão muito representados nesta lista. 

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