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Sob o signo de Cabral, marchou-se em Lisboa contra o racismo

21 de setembro 2024 - 17:06

Ao som de tambores e batuques, a 1ª Marxa Cabral percorreu a Avenida da Liberdade para celebrar o centenário do líder da luta anticolonial. Mariana Mortágua alertou para o aumento dos atos de violência inspirados pela extrema-direita.

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Marxa Cabral em Lisboa.
Marxa Cabral em Lisboa. Foto Miguel A. Lopes/Lusa

A 1ª Marxa Cabral desceu a Avenida da Liberdade com cânticos e palavras de ordem a evocar Amílcar Cabral e contra o racismo e a extrema-direita. A iniciativa reuniu alguns milhares de pessoas, com forte presença do movimento negro que convocou a marcha e lançou a “Declaração panafricanista de Lisboa - Cabral sempre!”.

No documento, sublinham que “Cabral está na origem da Revolução dos Cravos” e que “o 25 de Abril continuará a ser uma celebração incompleta enquanto a sua ausência, assim como a dos povos africanos que combateram o colonialismo, se perpetuar”. Para contrariar essa ausência, prometem sair à sua em cada setembro para marchar por muitas causas, pois Amílcar Cabral “encarna todas as nossas revoluções: Anticapitalista, antifascista, anticolonial, antipatriarcal, revolucionário e panafricanista”.

O Bloco de Esquerda também se associou a esta marcha e em declarações aos jornalistas Mariana Mortágua afirmou que a primeira razão para ali estar presente é a importância de “celebrar Amílcar Cabral como uma figura central da democracia portuguesa”. “Habituámo-nos a celebrar os heróis de Abril, os capitães de Abril, e essa homenagem deve estender-se aos movimentos de libertação africanos, que contribuíram para a Revolução Portuguesa”, apontou.

1ª Marxa Cabral em Lisboa

21 de setembro 2024

A segunda razão tem a ver com a leitura que faz sobre os dias de hoje, quando o país assiste “ao crescimento de movimentos racistas, de expressões xenófobas da sociedade portuguesa, que estão a ser impulsionados por grupos de extrema direita, o surgimento de grupos neonazis e também por partidos de extrema direita, como o Chega”. Um crescimento que está “a ter uma tradução na violência das ruas”.

“Os fenómenos de violência que temos vindo a assistir nos últimos tempos em Portugal, nunca vistos em Portugal, de ataques em imigrantes, de ataques em escolas, têm a ver com este o surgimento do ódio e destas demonstrações de ódio que nós queremos combater”, prosseguiu Mariana Mortágua, defendendo que a sociedade que tem que trabalhar para combater o racismo e a xenofobia. “E é por isso que aqui estamos, para celebrar esta sociedade de dignidade, de partilha, de solidariedade, e para dizer que o ódio e o racismo não têm lugar em Portugal”.

Mariana Mortágua destacou também a importância do protagonismo do movimento negro em iniciativas políticas e sociais. “Se nós queremos combater o racismo em Portugal, temos que dar visibilidade a quem hoje é invisibilizado. As pessoas racializadas são invisibilizadas da nossa sociedade, dos lugares de poder, da decisão”, referiu a coordenadora do Bloco para destacar a importância “que o movimento negro tenha organizado esta manifestação e que partidos políticos e a sociedade civil” se tenham associado a ela.

Questionada pelos jornalistas sobre o que o Governo tem feito a este respeito, Mariana Mortágua respondeu que “o que o Governo fez na lei de imigração foi uma brutal irresponsabilidade”, ao acabar “com o único mecanismo que existia para regularizar imigrantes que já estavam em Portugal”.

“O que o Governo fez foi aumentar a imigração clandestina em Portugal. Isso vai ter consequências, porque imigração clandestina quer dizer imigrantes que trabalham com menos salários, com menos direitos, menos capazes de se incluir na sociedade, quer dizer que não há reagrupamento familiar”, sublinhou a coordenadora do Bloco. lamentando que “em vez de enfrentarem o problema do racismo e da xenofobia” e criarem condições para a imigração necessária ao funcionamento do país, o executivo de Luís Montenegro “está a fazer o contrário, que é atirá-las para a clandestinidade e acabar assim a dar azo a outros fenómenos que depois são alimentados pela extrema direita com este tipo de discurso”.