Síria: as marcas de oito anos de guerra

16 de março 2019 - 13:21

Foi a 15 de março de 2011 que começaram os protestos pela democracia e contra o governo de Bashar al Assad. A repressão foi sangrenta e deu origem a uma guerra que arrasou boa parte do país e obrigou à fuga de milhões de pessoas.

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Tanque destruído junto a mesquita em Azaz, Siria
Imagem dos escombros de uma das batalhas pelo controlo de Azaz, a norte de Aleppo, que duraram entre março e julho de 2012. Foto de Christiaan Triebert/Flickr

Oito anos depois do início da guerra na Síria, o regime de Bashar al Assad, apoiado por militares russos e iranianos, conseguiu reconquistar o controlo de boa parte do território ocupado pelos grupos rebeldes e depois pelos jihadistas ligados à Al-Qaeda e ao Estado Islâmico.

O enviado especial dos Estados Unidos, James Jeffrey, afirmou esta sexta-feira que o califado do Estado Islâmico na Síria está reduzido a 1 quilómetro quadrado e apenas acolhe algumas centenas de combatentes. Os EUA têm dado apoio às milícias curdas que se destacaram na luta contra o Estado Islâmico e procuram agora uma oportunidade de fazer o assalto final na região de Baghuz. A recente ameaça de Trump de retirada rápida das tropas norte-americanas da Síria causou apreensão nas zonas sob auto-governo dos curdos, que temem vir a ser encurraladas pelas tropas de Assad, por um lado, e de Erdogan por outro.

Os rebeldes do grupo Hayat Tahrir al Sham, também conhecido por Al-Qaeda na Siria, ainda controlam zonas na província de Idlib, perto da fronteira com a Turquia, para onde fugiram muitos dos refugiados do restante território sírio durante os anos de conflito. Um eventual ataque a este território foi considerado como uma tragédia humanitária pelas Nações Unidas e conseguiu ser evitado graças a um acordo em setembro entre Turquia e Rússia para criar uma zona desmilitarizada.

Mas apesar do recuo dos combatentes islamitas e da diminuição dos ataques das tropas governamentais, os habitantes das zonas libertadas ainda sofrem os danos de anos prolongados de guerra que causaram mais de 6 milhões de refugiados internos. Outros 5.6 milhões fugiram para fora do país, quase dois terços para a Turquia. Segundo dados da ACNUR, o organismo da ONU para os Refugiados, o Líbano acolheu quase um milhão de refugiados sírios, a Jordânia 670 mil, o Iraque 250 mil e o Egito 133 mil.

“Embora milhões de sírios não tenham tido qualquer papel na guerra, têm de viver com as suas terríveis consequências” afirmou esta quinta-feira a enviada especial do ACNUR para a Síria. A atriz Angelina Jolie defendeu que “é vital que o regresso seja impulsionado pelos próprios refugiados, através de uma decisão tomada com conhecimento de causa, e não por motivos políticos”.

Por outro lado, o fosso entre as necessidades destes refugiados e a ajuda humanitária recebida é cada vez maior, sublinhou a ACNUR, estendendo a urgência de financiamento também àqueles países de acolhimento “para poderem continuar a prestar essa ajuda a milhões de refugiados e ajudar a sua população ante as pressões económicas e sociais que isso implica”.

Calcula-se que 83% da população síria esteja a viver abaixo do limiar da pobreza, após muitas regiões terem visto as suas casas e infraestruturas destruídas pela guerra, dificultando o acesso a água potável e saneamento básico. Quanto à fatura do custo da reconstrução do país, calculada em mais de 350 mil milhões de euros, os países ocidentais que apostaram na queda do regime Assad mostram-se indisponíveis para a financiar. Do dinheiro pedido pela ONU para cobrir as necessidades dos refugiados dentro e fora da Síria em 2018 — cerca de 7.750 milhões de euros —, o montante pago pelos doadores não chegou a dois terços do necessário.