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Sérgio Tréfaut: “O que se passa no Brasil é um verdadeiro crime de Estado”

O cineasta participou esta sexta-feira numa iniciativa em frente ao Consulado-Geral do Brasil, em Lisboa. O Governo foi exortado a posicionar-se contra as políticas genocidas de Bolsonaro e foi feito um apelo à solidariedade por parte da população portuguesa.
Sérgio Tréfaut, cineasta.
Sérgio Tréfaut, cineasta.

“Estamos aqui hoje para fazer uma pergunta muito importante. Os políticos costumam dizer que Portugal e Brasil são dois povos irmãos e neste momento é indispensável perceber de quem Portugal é irmão. Portugal é irmão das pessoas que estão a morrer ou Portugal é irmão das pessoas que estão a matar?”, perguntou Tréfaut.

O cineasta defendeu que “o que se passa no Brasil hoje é da ordem do crime de Estado”. Em causa estão “decisões políticas” que fazem com que existam cerca de 28 mil mortes por covid-19 confirmadas e mais 11 mil que, não surgindo nesta estatística oficial, estão, notoriamente associadas à pandemia. Sérgio Tréfaut sinalizou que é previsível que o Brasil ultrapasse os EUA no que concerne ao número de mortes. Acresce que vários órgãos de comunicação social avançaram esta sexta-feira que existe uma “subnotificação em sete do número de contagiados”, o que significa que existirão cinco vezes mais pessoas infetadas no Brasil em comparação com os EUA.

O cineasta, que voltou para o Brasil após eleição de Bolsonaro, lembrou as medidas criminosas do presidente brasileiro, dando o exemplo do desmatamento na Amazónia e da tentativa de desmantelamento do serviço nacional de saúde. De acordo com Tréfaut, com a pandemia, a situação “tornou-se impossível”. O negacionismo de Jair Bolsonaro leva a uma “política esquizofrénica”, em que o ministro da Saúde apela a que o povo fique em casa e o presidente diz que estamos perante “uma gripezinha”.

Sérgio Tréfaut denunciou a perseguição contra quem alerta para os perigos da covid-19 e a criação, por Bolsonaro e o seu círculo, de verdadeiras milícias contra o confinamento.

“Portugal não pode lavar as mãos de forma diplomática”, defendeu, avançando que argumentar que este é um “assunto interno é um equívoco” e que são necessárias “pressões de toda a ordem e posicionamentos claros” para acabar com o genocídio no Brasil. O cineasta frisou que o Brasil tem atualmente um governo de “assassinos”, chefiado por um “presidente ilegítimo”, e que estamos perante uma verdadeira “ditadura encapotada”, assente num “regime de ameaças”, com o clã bolsonaro a controlar a polícia.

Tréfaut apelou ao posicionamento do governo de António Costa e à solidariedade de toda a população portuguesa perante a “situação sinistra de sofrimento e morte” que se vive no Brasil. Uma das formas de demonstrar essa solidariedade passa por colocar uma bandeira nas varandas a sinalizar o luto.

“Não nos abandonem”

Carlos Vianna, representante da comunidade brasileira no Conselho de Migrações e cofundador da Casa do Brasil de Lisboa, também apelou a que multipliquem, no Brasil e no resto do mundo, “atos contra o governo Bolsonaro e por uma mudança total na situação política no Brasil”.

Em declarações ao Esquerda.net, Carlos Vianna reforçou a ideia de que a pressão internacional é fundamental, bom como o papel da comunicação social.

Nesse sentido, apelou à intervenção do governo português junto dos organismos internacionais, sinalizando que o descontrolo da situação no Brasil é “um perigo para o mundo” e afeta particularmente Portugal e os seus interesses.

“Não nos abandonem”, rematou.

“A desigualdade no Brasil é assassina”

A presidente da Casa do Brasil, Cyntia de Paula, explicou que estava ali para “lutar contra o governo genocida” de Bolsonaro e que é “fundamental denunciar a situação absurda que se vive no Brasil” e os permanentes ataques contra os direitos humanos”, principalmente das minorias.

Cyntia de Paula frisou que desigualdade no Brasil é assassina e que o povo é governado por um presidente que “não se importa se morrem cem pessoas ou um milhão”.

“Quem matou Marielle?”. A presidente da Casa do Brasil voltou a exigir respostas.

O protesto incluiu também uma intervenção plástica e a afixação de cartazes, onde se liam frases como "Deposição imediata. 'Impeachment'. Julgamento", "O Brasil não é isto", "Brasil, previsão até agosto: 100 mil mortos. 'E daí?', pergunta Jair Bolsonaro" e Bolsonaro, genocida demente".

 

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