Seguranças privados tentam despejar centro de apoio social em Lisboa

08 de junho 2020 - 12:46

Centro Social permite que pessoas em situação de sem abrigo possam alimentar-se, descansar e lavar a roupa de forma totalmente gratuita. Voluntários alegam ter sido ameaçados e acusam ainda os seguranças de destruirem coisas no interior do espaço.

PARTILHAR
Dois dos seguranças privados terão exibido armas e atuam sem qualquer ordem do tribunal.
Dois dos seguranças privados terão exibido armas e atuam sem qualquer ordem do tribunal. Fotografia de Seara - Centro de Apoio Mútuo de Santa Bárbara.

Eram cerca das cinco da manhã de segunda feira quando cerca de uma dezena de seguranças privados entrou pela Seara - Centro de Apoio Mútuo de Santa Bárbara (na freguesia de Arroios, em Lisboa) para despejar os voluntários e demais pessoas que lá se encontravam. 

O Seara resultou da ocupação de um antigo infantário, abandonado há anos, e que é atualmente usado como centro de apoio a pessoas em situação de sem abrigo e demais pessoas carenciadas. A ocupação do edifício e as atividades que ali seriam organizadas foram previamente comunicadas à Câmara Municipal de Lisboa e à Política de Segurança Pública.

No edifício estavam cerca de treze pessoas, na sua maioria pessoas que já se encontravam em situação de sem abrigo antes da pandemia, mas também pessoas que ficaram sem emprego no início do confinamento e que, ao perderem os seus rendimentos, perderam igualmente as casas onde moravam. 

Segundo testemunhas no local, os seguranças entraram no espaço de madrugada, adotaram uma postura agressiva para com quem estava no centro social, começaram a atirar alguns dos seus pertences pela janela e obrigaram alguns dos ocupantes a vestir-se à sua frente. Dois dos dez seguranças privados estavam armados e exibiram a arma a quem se encontrava dentro do espaço.

A PSP foi chamada ao local e já de manhã identificaram os seguranças privados. Alguns destes já abandonaram o edifício, mas outros ainda lá se encontram. Ainda de acordo com testemunhas no local, um saco foi atirado da janela do centro social para a rua das traseiras, no Regueirão dos Anjos. Cá em baixo estaria outro dos seguranças privados que abandonou a zona, levando esse saco consigo.

De acordo com um texto enviado à comunicação social, os seguranças privados foram mandatados pela advogada que representa os proprietários do edifícil, "com um contrato de arrendamento feito no dia anterior, para despejar pessoas que se encontrassem no local". Ainda no mesmo documento, lê-se que "a advogada dos proprietários entrou igualmente dentro do local e tentou subornar as pessoas no seu interior. A intervenção visa igualmente emparedar o edifício".

O deputado Jorge Costa e o vereador dos Direitos Sociais Manuel Grilo dirigiram-se ao local para tentar compreender o que se estava a passar e mostrar a sua solidariedade com os voluntários da Seara.

Em declarações ao esquerda.net, Manuel Grilo lembra que as pessoas que se encontravam no espaço estavam a prestar um serviço social a quem mais necessita e questiona-se sobre "como é possível que um grupo de seguranças privado tente agir como se fossem polícias", tentando expulsar pessoas "sem qualquer ordem do tribunal ou sem qualquer ordem de despejo".