O Comité de Solidariedade com a Palestina e a Plataforma BDS Portugal enviaram uma carta a pedir uma reunião urgente com os responsáveis da RTP e voltou a apelar para que exijam à União Europeia de Radiodifusão (EBU na sigla em inglês) a exclusão imediata da emissora israelita KAN na Eurovisão, “em coerência com a posição tomada em relação à Rússia”, e que se juntem a outras emissoras que podem estar disponíveis para subscrever um requerimento formal nesse sentido.
Em resposta, receberam uma curta mensagem do presidente do Conselho de Administração da RTP, Nicolau Santos. O responsável da estação pública de televisão ignora o pedido de audiência solicitado e diz apenas que “tem acompanhado com muita atenção a evolução da análise da situação em Israel e na Faixa de Gaza por parte da organização do Festival da Eurovisão”, acrescentando que “até agora, nenhum país decidiu não participar na edição deste ano”.
Depois de uma edição no ano passado que consideram “a mais caótica, politizada e desagradável da história da competição”, os coletivos solidários com a Palestina alertam que a semifinal em que Israel irá competir este ano realiza-se no dia da Nakba, em que se assinala a expulsão e limpeza étnica da Palestina em 1948. “Caso Israel suba ao palco nesse dia, a Eurovisão irá escrever o capítulo mais abjeto da sua história”, consideram.
“Por mais que a EBU repita os lugares comuns de que a Eurovisão é um evento não político, a mera presença de Israel na competição, enquanto comete impunemente crimes de guerra e contra a humanidade, é em si mesmo um posicionamento político da EBU, que vincula todos os restantes membros participantes. A RTP não é exceção”, avisaram os subscritores da carta enviada a Nicolau Santos, Carla Bugalho, Gonçalo Madaíl e Maria Dias Ferreira.
Os apelos à exclusão de Israel deste evento por estar a levar a cabo um genocídio em Gaza estendem-se a outros países participantes. Na Finlândia, foi entregue à direção da estação televisiva Yie uma petição subscrita por dez mil pessoas e outra com 500 assinaturas de profissionais da cultura finlandesa.
A emissora espanhola RTVE apelou na sexta-feira a um debate aberto no seio da EBU sobre a participação de Israel, na sequência da pressão social nesse sentido. Mas esta entidade respondeu horas depois numa breve declaração a afirmar que todos os seus membros são elegíveis para participar e reconhecendo apenas a existência de preocupações e opiniões vincadas sobre “o conflito no Médio Oriente”, sem nunca nomear Israel.
As organizações portuguesas apontam ainda a violação dos regulamentos da Eurovisão na edição do ano passado, com assédio a concorrentes, júris e jornalistas por parte da delegação israelita. A própria emissão da KAN não ficou atrás, com os apresentadores das emissões do festival transmitido em Israel a insultarem vários concorrentes e a incitarem à violência contra alguns deles. No caso da artista portuguesa Iolanda, aconselharam os telespetadores a irem à casa de banho durante a sua atuação. E deram recomendações de voto com base na posição dos concorrentes sobre a Palestina. Estas violações foram reconhecidas pela EBU, que nada fez depois para as punir.