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Revista Esquerda já nas bancas

Democracia, ascensão da extrema direita, Europa, euro, feminismo, internet, robotização, precariedade, educação, legalização da canábis, ecossocialismo. A revista Esquerda tem muito que ler e que ver. Está nas bancas a partir deste fim de semana com um preço de quatro euros.
Com uma tiragem de dez mil exemplares, esta é uma revista editada pela equipa do esquerda.net e que terá uma periodicidade anual. Segundo o seu editorial “existe para ser um instrumento útil para o debate de ideias para o pensamento de esquerda, aqui e agora.”
Os 20 anos do Bloco não podiam deixar de ser um tema da revista. A cronologia feita pelo Esquerda permitir-nos-á relembrar alguns dos seus momentos mais marcantes. E o economista espanhol Manuel Garí traz-nos um olhar de fora sobre essa história.
Também 20 anos faz a moeda única. E esse é o pretexto para analisar a arquitetura monetária europeia. Mariana Mortágua conta essa história dissecando os princípios neoliberais que a sustentam, Ricardo Cabral expõe as suas fragilidades. A eurodeputada socialista Ana Gomes também colabora neste número da Esquerda com um artigo a mostrar o papel da fraude fiscal no sistema financeiro europeu e a resistência dos governos em aprovar medidas que a combatam eficazmente.
Revista de resistências, o Esquerda olha para resistências passadas. No centenário da sua morte, o historiador António Louçã assinala a atualidade do pensamento de Rosa Luxemburgo.
E presentes. Assim, a fotogaleria de Paulete Matos mostra o Porto que resiste à gentrificação. E Andrea Peniche reflete sobre os debates trazidos pelo feminismo do século XXI, Ana Cansado analisa o conceito de violência de género e a deputada Sandra Cunha sublinha prioridades para combater o femicídio.
Revista que olha de frente para o que está a mudar. O Esquerda toma como tema os avanços tecnológicos que abalam a organização do trabalho, António Brandão Moniz volta ao debate sobre robotização e desemprego e Maria da Paz Campos Lima debruça-se sobre a precarização que a uberização da economia traz às relações laborais. Uma precariedade que, em Portugal, já é infelizmente uma tradição. Em entrevista, Daniel Carapau e Inês Farias, ativistas contra a precariedade fazem o balanço do programa governamental de regularização dos precários do Estado.
Os avanços tecnológicos ditam modos de trabalhar mas também de ser criança. Assim, o pediatra Mário Cordeiro reflete sobre as novas tecnologias e a educação. E novas formas de comunicarmos entre nós. Ricardo Lafuente olha para o futuro da internet e para as lutas políticas que este meio tecnológico envolve, dos algoritmos, a questão da centralização, da regulamentação, do sofware livre.
Internet que foi o meio onde cresceram as novas tecnologias do ódio utilizadas pela extrema-direita como realça João Teixeira Lopes. Para se compreender o fenómeno é preciso categorizar detalhadamente a extrema direita europeia, como faz Jorge Martins, e olhar para a genealogia dos debates caseiros do nacionalismo português, como o faz Luís Trindade olha para os debates que envolvem o nacionalismo português. Por sua vez, Fernando Rosas alerta que a sombra do fascismo paira sobre nós.
Não só por cá. Sobre a extrema-direita do Brasil, Luís Leiria e Joana Mortágua fazem o retrato de família do Bolsonarismo. E no plano internacional também se conta história do boicote a Israel, pelas palavras de Ana Bárbara Pedrosa. Bruno Góis e Luís Fazenda mostram como se compõe o puzzle político espanhol e como aí se encaixa a questão nacional.
Como este primeiro número da revista Esquerda sai em vésperas de eleições europeias, há também espaço para perceber o trabalho de uma eurodeputada de esquerda, fazendo-se o retrato de uma semana de trabalho de Marisa Matias, que escreve um "muito breve balanço" dos seus dez anos de mandato no Parlamento Europeu.
Para além da extrema-direita, outra ameaça no horizonte é o desastre ambiental. Steve Sprung, realizador, vê o nevoeiro denso desse futuro mas também sabe que há alternativas de futuro. Uma delas tem de ser a construção de um novo sistema energético. É o que sublinha o ecossocialista Daniel Tanuro. E, a propósito do agronegócio, Rita Calvário também sabe que há alternativas alimentares.
Luís Branco pega nas alternativas ao proibicionismo das drogas leves. A questão da legalização da canábis está na ordem do dia em vários países, com modelos diferentes a serem aplicados. Assim nos mostra a entrevista com Dominique Mendiola, responsável pela política de canábis do Colorado, e de Julio Calzada Mazzei, sociólogo que dirigiu a Junta Nacional de Drogas que legalizou a canábis no Uruguai, tal como o caso do Canadá.
A revista Esquerda dedica-se, para além dos temas que marcam o nosso presente, às ideias que o moldam. E aos cruzamentos entre elas. Francisco Louçã relaciona as políticas identitárias com as políticas socialistas e José Manuel Pureza analisa o diálogo entre cristianismo e marxismo.
E no nosso microcosmos cabe também a cultura por vários meios. A imagem em movimento com a análise ao filme Raiva de Sérgio Tréfaut. A fotografia, com a qual Valter Vinagre nos traz um olhar diferente sobre o que nos dizem as paredes e Sebastião Pernes faz o mesmo com as ondas. As imagens desenhadas, Viriato Teles escreve sobre o legado do autor de banda desenhada Fernando Relvas, de quem publicamos um dos seus trabalhos. As letras com um inédito de Urbano Tavares Rodrigues, uma carta ao filho, contos de Gabriela Ruivo Trindde e Luís Rainha e um excerto do livro "Hotel Lusitano", publicado por Rui Zink em 1986. Para além de resenhas de dois livros, Destemidas – Mulheres que só fazem o que querem, de Pénélope Bagieu e Pátria de Fernando Aramburu.
São portanto mais de uma centena de razões para folhear este primeiro número da revista que a equipa do Esquerda preparou.
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