Redações revoltadas com interferências da administração da Global Media

02 de junho 2021 - 12:11

O presidente do Conselho da Administração tornou-se administrador das páginas de Facebook das publicações sem consentimento das direções dos jornais. E também proibiu que as publicações paguem aos políticos que assinam colunas ou integram painéis de debate.

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Capas do Diário de Notícias e Jornal de Notícias. Foto esquerda.net

Os Conselhos de Redação (CR) do Jornal de Notícias (JN), do Diário de Notícias (DN), da TSF e de O Jogo, consideram “ilegítima” a ordem dada por Marco Galinha, Presidente do Conselho de Administração (CA) da Global Media e acionista principal, de que os artigos de opinião de políticos deixem de ser pagos.

Esta não foi a única situação a provocar a demissão de Inês Cardoso e Rosália Amorim, diretoras do JN e do DN, dos cargos de administradoras não executivas da Global Media, segundo a M&P. Marco Galinha também foi colocado como administrador das páginas de Facebook das publicações sem conhecimento da direção.

O Esquerda Net teve acesso a um comunicado onde o CR do DN afirma que “depois de verificadas as definições das plataformas, a Diretora comunicou ao CR que a informação é correta”, relativamente a Marco Galinha ter sido colocado a gerir as páginas de Facebook.

“Perante esta confirmação, os conselheiros alertam o presidente do CA para o que consideram poder tratar-se de uma intrusão da Administração em competências que a Lei designa como exclusivamente Editoriais”, refere o comunicado.

A CR do DN alerta que “foi-nos informado que há uma ordem do Presidente  do CA para deixar de remunerar colaboradores/colunistas considerados como Pessoas Expostas Politicamente (PEP), no seguimento do que terá sido afirmado pelo Presidente do CA em comissão parlamentar”.

“Sublinhamos também que a escolha dos colunistas para os espaços de opinião do jornal é uma competência editorial atribuída ao Diretor/a da publicação e é parte fundamental do valor editorial da publicação e do seu posicionamento no mercado face à concorrência”, aponta a CR do DN.

Denunciam que “a Redação do DN foi ainda confrontada recentemente com a existência de uma prática de contagem de presenças no espaço físico das redações, alegadamente a pedido da Administração”.

A “gritante escassez de recursos no corpo redatorial, sem paralelo em qualquer outro título do grupo ou da concorrência” também é denunciada pelo CR, já que “no recente processo de despedimento coletivo do grupo, este título viu serem despedidos sete jornalistas, praticamente um terço da uma redação que já era a mais subdimensionada”.

O CR do JN considera “ilegítimas” as ordens dadas pelo Marco Galinha porque configuram “uma interferência da administração em matéria da competência exclusiva da Diretora”.

“Também não restam dúvidas de que às empresas, portanto às administrações, está vedado determinar a exclusão nomeadamente de autores em espaços de opinião, uma vez que as suas criações fazem parte integrante do conteúdo da publicação, que é, insiste-se da competência exclusiva do diretor”, sublinha o CR do JN.

Este Conselho “não compreende nem aceita a figura - pessoa exposta politicamente - usada pela administração como fundamento para proibir «expressamente» o pagamento de colaborações de atores políticos, que é completamente estranha ao exercício da expressão de pensamento” e também “considera que o presidente da CA deve abster-se de quaisquer atos nas redes sociais que possam configurar uma intromissão na área editorial”.

Da parte do CR da TSF, os membros eleitos “manifestaram ao diretor preocupação com o fim do pagamento a personalidades políticas que colaboram com a TSF na área do comentário”.

Os membros eleitos do CR alertam ainda para o risco de a direção da TSF perder a independência de escolher o perfil dos colaboradores, “no respeito por critérios de qualidade que assegurem um «leque» de opinião política relevante”.