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Palestinianos e israelitas criticam "provocação" na Mesquita de Al-Aqsa

O novo ministro da Segurança Nacional de Israel, Itamar Ben-Gvir, de extrema-direita, desfilou esta terça-feira nos pátios da Mesquita de Al-Aqsa, em Jerusalém, no que é visto como uma provocação pelos palestinianos.
Este local é considerado um dos mais sagrados do Islão e disputado pelos judeus ortodoxos que alegam ter sido a localização do Monte do Templo, destruído pelos romanos no ano 70. Há um acordo no sentido de que visitas podem ser feitas mas rezar ou fazer cerimónias religiosas judaicas é proibido. Só que há cada vez mais extremistas religiosos do lado israelita a desafiar o acordado e Ben-Gvir é um deles. Em maio passado, quando ainda não estava no governo, esteve no local e partilhou uma fotografia em que apelava à destruição da mesquita para se construir uma sinagoga.
Não é também a primeira vez que uma visita de um governante israelita ao local desencadeia protestos. Em 2000, a ida do então primeiro-ministro Ariel Sharon a Al-Aqsa foi uma das causas a desencadear o levantamento que ficou conhecido como a Segunda Intifada.
Assim, o Hamas no dia anterior tinha já avisado que não iria “ficar sentado à espera” caso tal acontecesse. Abd al-Latif al-Qanua, porta-voz da organização, chamou-lhe “mais um exemplo da arrogância do governo colonizador e dos seus futuros planos para danificar e dividir a Mesquita de Al-Aqsa” e assegurou que “a resistência palestiniana não vai permitir que o governo neo-fascista de ocupação ultrapasse as linhas vermelhas e invada o nosso povo e os nosso santuários”.
Também o ministro dos Negócios Estrangeiros da Autoridade Palestiniana, pertencente à Fatah, criticou em comunicado a “provocação sem precedentes e ameaça séria” que representa o ocorrido, mas responsabilizou sobretudo Benjamin Netanyahu. Mohammad Shtayyeh, primeiro-ministro da Autoridade Palestiniana, reforçou a mensagem, apelando aos seus conterrâneos para “confrontar os raides à Mesquita de Al Aqsa”.
Em Israel a oposição também usa a mesma expressão. Yar Lapid, o ex-primeiro-ministro, considera o que aconteceu uma “provocação deliberada” que resultará em mortes.
Entre as reações de repúdio que vieram de grande parte do mundo islâmico destaca-se a da Jordânia, que detém a custódia oficial do lugar e que considerou que a visita violou a lei internacional e “o status quo histórico e legal em Jerusalém”.
Desde a Segunda Intifada, o ano de 2022 foi o mais mortífero para os palestinianos alvo das forças israelitas na Cisjordânia. Segundo os dados compilados pelo Middle East Eye, morreram pelo menos 220 palestinianos vítimas das autoridades israelitas, 48 das quais menores de idade. 167 das vítimas eram da Cisjordânia e de Jerusalém Leste e 53 da Faixa de Gaza. Também foram mortos cinco palestinianos com cidadania israelita. Do lado contrário, 29 israelitas foram mortos por palestinianos, sendo um menor.
São dados que ainda não contabilizam as mais recentes mortes que aconteceram nos últimos dois dias. Na noite de domingo, as tropas do exército israelita entraram na vila de Kafr Dan, a oeste de Jenin, para demolir à força as casas da família de dois palestinianos mortos num tiroteio há alguns meses, do qual tinha resultado ainda a morte de um soldado israelita. A polícia de Israel destrói habitualmente as casas das famílias de palestinianos que tenham participado em ataques como forma de retaliação.
Nos confrontos que se seguiram à ação de destruição das casas, acabaram por matar duas pessoas, Mohammed Samar Khoshiyeh, de 22 anos, e Fouad Mohammed Abed, de 25, e ferir outras três, de acordo com o ministério da Saúde palestiniano.
A terceira morte deste ano ocorreu na Cisjordânia na manhã desta segunda-feira. Um palestiniano de 15 anos, Adam Essam Ayyad, foi morto com uma bala no peito no campo de refugiados de Dheisheh, a sul de Belém. Houve também vários feridos.
Ao Middle East Eye, Akram Shafout, um ativista deste campo, explicou que a intervenção israelita começou às quatro da manhã e que os jovens responderam com pedras contra veículos blindados e que “as vidas dos soldados não estiveram em perigo”. Por sua vez o Times of Israel e outros meios de comunicação social israelitas dão conta das alegações das forças armadas israelitas de que foram atirados cocktails molotov e que um dos soldados ficou “ferido ligeiramente”.
As incursões armadas neste campo são frequentes e esta não foi a primeira morte que daí resulta. Aliás, há cerca de um mês, Omar Manah, de 23 anos, que trabalhava com Ayyad numa padaria do campo, tinha sido morto num destes ataques. A morte do seu amigo terá sido uma das razões que o levou a confrontar os soldados israelitas, diz Shafout.
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