II Fórum LGBTQI+

“O nosso dever histórico é lutar contra os oligarcas”

02 de março 2025 - 17:35

No encerramento do II Fórum LGBTQI+ em Coimbra, Mariana Mortágua denunciou a união “entre os ultraliberais e os ultra-conservadores” que têm por objetivo “gerir estilhaços de identidades incapazes de se organizarem entre si”.

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Mariana Mortágua
Mariana Mortágua no II Fórum LGBTQI+. Foto Tiago Resende

A coordenadora do Bloco de Esquerda encerrou este domingo o II Fórum LGBTQI+ em Coimbra, que juntou mais de duas centenas de ativistas em debates durante o fim de semana. E apontou o dedo à oligarquia “que se sente no direito de nos governar”, para quem a liberdade económica está sempre acima da liberdade política, e que tem para oferecer “um futuro novo em que só nos prometem regressar ao passado, em que a lei do mais forte é a lei do patriarcado porque se alimenta da estrutura desigual das sociedades”.

“É estranho, a meritocracia escolhe sempre homens brancos e heterossexuais”, ironizou a coordenadora bloquista, acrescentando que não é por acaso que é acima de tudo “uma direita transfóbica”, pois “há poucas coisas que mexam tanto com esta sua noção de hierarquia e de valores que querem manter como os direitos das pessoas trans”.

No plano nacional, Mariana Mortágua deu o exemplo do voto da Iniciativa Liberal esta semana no Parlamento ao lado da extrema-direita sobre a disciplina de Cidadania nas escolas. “Os arautos e donos da liberdade (…) querem tirar das escolas a discussão sobre a liberdade: a liberdade de expressão, a liberdade de género, a liberdade de sermos. Não há definição maior de liberdade do que aquela que a IL quis censurar”, afirmou a coordenadora do Bloco, concluindo que esse voto sela a união “entre os ultraliberais e os ultra-conservadores”. Uma união que tem produzido figuras como Elon Musk, Trump e Milei, que têm em comum a defesa do “capitalismo sem limites e do mercado a dominar as nossas vidas”, além do “ódio à justiça social e à igualdade como projeto de sociedade”, que depois se traduz num “ódio à democracia”. “É tudo isso que eles odeiam e a tudo isso chamam wokismo”, um termo “inventado pela extrema-direita para acantonar a esquerda e as lutas importantes”, referiu.

II Fórum LGBTQI+
Plenário do  II Fórum LGBTQI+. Foto Tiago Resende

A origem da força destes grupos que há pouco tempo viviam nas franjas da política está nas “contradições e da crise do capitalismo” e “este regime meio distópico que emerge agora, não emerge como uma excrescência do capitalismo, mas é a consequência óbvia e a única possível do neoliberalismo, do individualismo exacerbado, da exploração sem limites”, prosseguiu.

“A nossa maior arma é a solidariedade de todas as lutas”

“Mais do que apagar identidades, esta oligarquia quer gerir estilhaços de identidades incapazes de se organizarem entre si”, acrescentou Mariana Mortágua, explicando que é por isso que “a oligarquia quer muito as marchas do orgulho patrocinadas por empresas e que vão celebrar a sua alegria com zero potencial de transformação, crítica e afirmação”. O objetivo desta lei do mais forte, explicou, é que “sejamos todos indivíduos com a sua identidade particular, mas que é incapaz de se unir a outra para ver o que têm em comum para assim construir um sujeito coletivo para pôr em causa o poder dessa oligarquia”. Ou seja, “querem que façamos da nossa luta uma luta apenas simbólica”.

Para contrapor a este projeto da oligarquia, a resposta de Mariana Mortágua é a de “procurar o denominador comum e não ficar sozinhas”, pois “quando o Chega e grupos de estrema-direita ameaçam gays, lésbicas, trans, imigrantes, pessoas racializadas, aquilo que nos vai proteger é estarmos juntas, em coletivo”.

“Toda a gente tem o seu dever histórico, fruto de ter nascido quando nasceu. A nós calhou-nos viver este tempo e o nosso dever histórico é lutar contra os oligarcas, de ter uma luta anticapitalista, pela liberdade, pela emancipação, todas juntas, sempre em solidariedade e sempre unidas”, defendeu a coordenadora do Bloco. Sem esquecer o sentimento de classe “que atravessa todas nós independentemente das lutas que temos para fazer”, Mariana Mortágua concluiu que “a nossa maior arma é a solidariedade de todas as lutas, de sair à rua por todas as causas porque elas são sempre e todas a mesma causa, que é a causa da liberdade”.

Bloco desafia Montenegro a apresentar moção de confiança e quer respostas por escrito sobre os clientes da empresa

Em declarações aos jornalistas à margem da iniciativa, Mariana Mortágua anunciou que o Bloco irá dirigir um conjunto de perguntas ao primeiro-ministro para que Luís Montenegro possa responder por escrito sobre as dúvidas levantadas quanto às contas e à identidade dos clientes da sua empresa, ao tipo de serviços prestados e respetivas remunerações, entre outras.

“Se tem de vender a empresa é porque houve uma incompatibilidade. Se houve uma incompatibilidade e se agora diz que vai pedir escusa no caso da Solverde, que outras empresas deverão merecer a escusa do primeiro-ministro? Em que outros casos foi violada a exclusividade do primeiro-ministro? Há perguntas por responder”, prosseguiu Mariana Mortágua, desafiando Montenegro a “ser consequente com as suas palavras” e apresentar uma moção da confiança ao Parlamento.

Quanto à moção de censura do PCP, Mariana Mortágua considera que ela “não desresponsabiliza o Governo e o primeiro-ministro em particular, de fazer aquilo que disse que faria, que é apresentar uma moção de confiança se os partidos da oposição não lhe dessem essa confiança, coisa que é muito claro que não foi dada”.