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O assalto ao povo angolano teve a cumplicidade da elite política e económica portuguesa

À margem de uma visita ao hospital de Torres Vedras, Catarina Martins falou do caso Luanda Leaks. A coordenadora do Bloco destacou o papel dos parceiros de negócios portugueses de Isabel dos Santos como o grupo Sonae, o grupo Amorim e o grupo BPI.
Foto de Carlos Barroso/Lusa.

Não há novidade no Luanda Leaks. Ou melhor, a novidade é que agora toda a gente passou a falar naquilo que se criticava ao Bloco de Esquerda. É assim que Catarina Martins olha para a investigação à fortuna de Isabel dos Santos feita pelo Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação.

Esta segunda-feira, a coordenadora do Bloco fez questão de destacar que “há vinte anos que o jornalista angolano Rafael Marques tem vindo a denunciar este assalto autêntico que tem sido feito ao povo angolano por Isabel dos Santos e pela família dos Santos”. E fez também questão de salientar a “cumplicidade da elite política e económica portuguesa”, lembrando que são parceiros de negócios de Isabel dos Santos o grupo Sonae, o grupo Amorim e o grupo do BPI e que “tantos responsáveis políticos saltaram entre o governo e os interesses da família Dos Santos em Angola”, como por exemplo Martins da Cruz, Mira Amaral, Teixeira dos Santos e Durão Barroso.

Não há novidade também porque o que agora é escrito é o que tem sido dito pelo Bloco há “vinte anos no Parlamento”. Catarina Martins afirma que o Bloco tinha, até agora, vindo a ficar “tristemente isolado nessa denúncia”, foi “apelidado de irresponsável” e “foi muito atacado por ter uma posição muito crítica do regime e falar da corrupção e do crime económico que penalizou os dois países”.

Não só na política mas “também houve na comunicação social um enorme silêncio sobre o assalto que foi feito ao povo angolano”. “Ainda bem que esse silêncio acabou”, considera.

Só está espantado quem quis fechar os olhos até agora.

Questionada sobre o papel do governador do Banco de Portugal neste caso, a dirigente do Bloco manteve o tom: “Carlos Costa não tem condições para estar à frente do Banco de Portugal”. E sobre o papel da justiça comentou: “a justiça angolana está a atuar bem, a justiça portuguesa também tem de atuar. Porque o roubo que foi feito ao povo angolano foi também feito com crime económico em Portugal. E portanto é preciso que a justiça portuguesa atue também em Portugal e que haja responsáveis trazidos à justiça pelo crime económico”. Salientando o respeito do partido pelo princípio da separação de poderes não deixou de dizer que “a justiça portuguesa tinha de fazer mais relativamente ao branqueamento de capitais, à lavagem de dinheiro, à cumplicidade com o crime económico”.

Assim, para Catarina Martins, “o Estado angolano tem toda a razão em fazer o arresto de bens” e cabe ao governo português “fazer a sua parte na medida em que há interesses de Isabel dos Santos em empresas importantes da indústria, da finança, da energia em Portugal” que podem ficar em dificuldades. O Estado português deverá “não só colaborar em tudo com a justiça como abrir negociações com o governo angolano para garantir o funcionamento de empresas que são tão fundamentais à economia portuguesa”.

Houve, portanto, um “assalto que foi feito ao povo angolano”, realizado através da “lavagem de dinheiro em Portugal, com a cumplicidade da elite política e económica portuguesa”, sintetiza.

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