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Milícia de extrema-direita queria raptar governadora do Michigan e iniciar guerra civil

Depois de Trump ter sido criticado por não se desvincular das milícias e de outros grupos extremistas, o FBI desmontou um caso que considera de “terrorismo doméstico”. O incidente contagiou a campanha eleitoral.
A governadora Gretchen Whitmer em 2019. Foto de Julia Pickett/wikimedia commons.
A governadora Gretchen Whitmer em 2019. Foto de Julia Pickett/wikimedia commons.

Uma milícia de extrema-direita norte-americana, denominada Wolverine Watchmen, foi acusada formalmente de planear o rapto da governadora do Michigan, Gretchen Whitmer. De acordo com o FBI e a procuradoria do estado, estavam também previstos ataques ao edifício do capitólio estadual e a elementos das forças de segurança.

Na conferência de imprensa em que divulgou as acusações, a procuradora do Michigan, Dana Nessel informou que foram encontradas provas de que o grupo vigiava a casa da governadora e de que tinha planeado fazer explodir uma bomba numa ponte como manobra de distração. Para além disso, queriam provocar várias explosões em carros da polícia. 200 elementos, diziam nas suas comunicações internas, entrariam no edifício do capitólio do estado, tomando reféns. 13 elementos desta milícia estão agora acusados de vários crimes. Seis diretamente do plano de rapto descoberto pelo FBI.

Nessel explicou ainda que se descobriu que o objetivo do grupo era “instigar uma guerra civil conduzindo ao colapso da sociedade”. O caos assim lançado seria uma oportunidade para recrutar novos membros.

A documentação recolhida pelos cerca de 200 agentes de autoridades dos EUA envolvidos na investigação indica que este plano seria levado a cabo antes das eleições presidenciais. Os membros da Wolverine Watchmen consideram Whitmer, do Partido Democrata, uma “tirana”, estão irados pelas medidas de confinamento devidas à pandemia e pretendiam “julgá-la” por traição” e fazer dela um exemplo.

Este grupo é apenas um de entre duas a três dezenas de milícias de extrema-direita que estão operacionais apenas no estado do Michigan. Em entrevista ao Detroit Free Press, a professora Amy Cooter, da Universidade de Vanderbilt, especialista no estudo deste fenómeno, explica que se estruturaram no início do anos 1990 à volta do medo do controlo tirânico do estado federal.

A professora universitária acredita que se estão a tornar cada vez mais violentos e perigosos, à medida que deixam a sua base rural e isolamento para convergir com supremacistas brancos e conspiracionistas de todo o país.

O plano de rapto entra na campanha

A questão da proximidade do atual presidente dos EUA a este tipo de movimentos já tinha sido um dos temas quentes do primeiro debate entre os dois principais candidatos. Nessa altura, Donald Trump, instado pelo moderador a tomar posição clara sobre estes grupos, recusou condená-los diretamente. Quando o nome dos Proud Boys vem à baila, acaba dizendo “Proud Boys, recuem e estejam a postos”, o que foi visto como uma forma de legitimação.

A intervenção de Trump sobre o desmantelamento do plano de rapto da milícia do Michigan foi igualmente polémica. Acusou a governadora de “não ter dito obrigado” e atacou-a pelo “terrível trabalho” feito durante a pandemia: “fechou o estado para todos, exceto para as atividades das embarcações do marido”.

Só que, esclarece o USA Today, Whitmer tinha mesmo agradecido a intervenção das forças de segurança numa conferência de imprensa em que criticou o presidente por não fazer o suficiente para condenar este tipo de movimentos, de “fomentar a raiva”, encorajando os grupos que “espalham medo, ódio e divisão”. Da prestação de Trump no debate presidencial, diz Gretchen Whitmer, “os grupos de ódio” retiraram a ideia de “uma chamada para agirem”. O mesmo diz da “retórica incendiária” de alguns dos republicanos do seu estado.

Por sua vez, o rival de Trump na corrida à presidência dos EUA, Joe Biden, declarou na quinta-feira que há uma “linha” entre a “tolerância do ódio, da vingança e da ilegalidade” que Trump potencia e o plano de rapto.

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