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China: Milhares de trabalhadores dos transportes fazem greve em Shenzen

Reprimidos pela polícia, exigem um cálculo de salários mais transparente, o pagamento das horas extraordinárias em atraso, a redução da jornada de trabalho, e abolição do esquema de penalizações que obrigava os motoristas a pagarem os danos do veículo em caso de acidente.
Greve foi provocada pelo desespero, dizem os trabalhadores. Foto do China Labour Bulletin
Greve foi provocada pelo desespero, dizem os trabalhadores. Foto do China Labour Bulletin

Milhares de trabalhadores da Shenzhen East Public Transport Co. realizaram uma manifestação diante do governo distrital, exigindo que o sistema de cálculo dos seus salários seja mais transparente, que sejam pagas as horas extraordinárias em atraso, que a jornada de trabalho seja reduzida, e que seja abolido o esquema de penalizações que obrigava os motoristas a pagarem qualquer dano ao veículo causado por acidente.

A manifestação decorria de forma inteiramente pacífica até à chegada da polícia, armada de escudos e cassetetes, que cercaram os trabalhadores, forçando-os a recuar. Há notícia de pelo menos cinco detenções e um motorista, Peng Lin, terá sido acometido por um ataque cardíaco depois da sua detenção, e está em estado crítico.

Uma trabalhadora ouvida pelo China Labour Bulletin denunciou que a atuação da polícia foi muito violenta: “uma das minhas colegas só evitou ser presa por ter gritado que estava grávida”, disse.

A empresa opera cerca de 200 linhas de autocarros na cidade, e até agora recusou-se a negociar com os trabalhadores.

Greve provocada pelo desespero

Um motorista de 50 anos disse que os trabalhadores recorreram à greve e às manifestações devido ao desespero: “Seres humanos não conseguem aguentar esta sobrecarga de trabalho. Imagine levantar-se às 6h da manhã e só voltar a casa depois das 22h, depois de conduzir o autocarro numa extensão de 320 quilómetros, em cinco distritos, parando em mais de 100 sinais de trânsito e 60 paragens, e ainda terem de se preocupar em ganhar um salário que lhe permita viver.

“Seres humanos não conseguem aguentar esta sobrecarga de trabalho. Imagine levantar-se às 6h da manhã e só voltar a casa depois das 22h, depois de conduzir o autocarro numa extensão de 320 quilómetros".

“Podia continuar, durante três dias, a dar exemplos negativos das práticas da empresa, e precisaria de outros tantos dias para me lembrar de um exemplo positivo”, prosseguiu a trabalhadora ouvida pela reportagem, que garantiu que o protesto vai continuar e que está a ter apoio crescente de outras empresas, como a Shenzhen West Bus Co.

O China Labour Bulletin tem relatado inúmeras greves nas companhias de transporte, causadas por reivindicações semelhantes: salários baixos, más condições de trabalho e gestão abusiva.

Todos os trabalhadores descontam para o sindicato, mas os que foram ouvidos pelo Bulletin nada sabiam sobre o sindicato. A Federação de Sindicatos de Shenzen, à qual deveria estar filiado o sindicato da empresa de transportes, não quis fazer comentários sobre a greve.

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