Microplásticos: investigação descobre poluição nos maiores rios europeus

07 de abril 2025 - 23:30

Um navio científico recolheu ao longo de anos amostras em nove dos grandes rios europeus. A conclusão foi que há neles uma “poluição catastrófica”.

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Navio da Tara
Navio da Tara. Foto de Yohann Cordelle/Wikimedia Commons.

A expedição Tara Microplastiques, empreendida pelo navio científico Tara e que foi auxiliada por cerca de 40 investigadores, desenvolveu a partir de 2019 uma campanha de análise inédita sobre a poluição em nove dos maiores rios europeus com o objetivo de revelar a disseminação da poluição por microplásticos.

Foram recolhidas 2.700 amostras de centenas de metros cúbicos de água do Loire, Sena, Garonne, Reno, Ródano, Tibre, Elba, Tamisa e Ebro, analisadas em 19 laboratórios ao longo de cinco anos. Um trabalho que permitiu concluir a existência de níveis alarmantes de contaminação, tanto à superfície como em profundidade, por microplásticos. Uma “poluição catastrófica” nas palavras dos autores da investigação.

Estes transportam consigo 16.000 moléculas químicas, um quarto das quais são reconhecidas como tóxicas. Têm origem na degradação de resíduos abandonados nas margens ou transportados através de escoamento de águas, para além do grave problema causado pelos recipientes alimentares de utilização única, também foram detetados granulados de plástico industrial.

Os materiais são um perigo muitas vezes invisível a olho nu. Mas estão a afetar a biodiversidade, sendo ainda um suporte para bactérias que podem acabar por afetar seres humanos ou “esponjas” para outros produtos tóxicos. Ao estarem nas águas, acabam por ser ingeridos por peixes, aves, mamíferos ou plantas, espalhando-se ao longo da cadeia alimentar.

Já existiam vários estudos sobre a dimensão do problema nos oceanos, mas este foi pioneiro no estudo sobre o seu percurso até aí e da intensidade da poluição no território do continente europeu.

Jean-François Ghiglione, diretor científico do estudo e diretor de investigações no laboratório de oceanografia microbiana do CNRS francês, esclarece a omnipresença destes poluentes, afirmando que “não há uma única amostra em que não tenhamos encontrado alguns”. A investigação pretendia estabelecer níveis de poluição “mas, de um modo geral, não conseguimos demonstrar cientificamente que um rio está mais poluído do que outro”.

Em média, os investigadores encontraram três grandes microplásticos por metro cúbico de água. Para ilustrar a situação, o RTL escreve: “imagine-se em Valence, nas margens do Ródano. Neste ponto, o caudal do rio é de 1.000 metros cúbicos por segundo. Isto significa que se piscar por um segundo, durante esse tempo terão passado 3.000 partículas de microplástico à sua frente em direção ao mar. Esta imagem é ainda mais preocupante porque sabemos agora que 80% dos microplásticos encontrados no oceano provêm dos rios.”

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