Num jantar-comício de campanha em Leiria, Mariana Mortágua falou esta quinta-feira da defesa da escola pública e recordou o tempo não muito longínquo em que, "quando precisou de uma maioria no Parlamento contra os professores, o PS conseguiu-a com os deputados do PSD" no chumbo da recuperação do tempo de serviço. Por isso considera a promessa da recuperação do tempo de serviço dos professores feita por Luís Montenegro "anti-natura, cheia de truques e que já nasceu afogada em impossibilidades e dúvidas".
"Em maio de 2019, num desses truques, o PSD votou contra a recuperação do tempo de serviço dos professores quando a medida podia ter sido aprovada", insistiu Mariana Mortágua, sem dúvidas de que "no dia 10 de março, quando rebentar a bolha do eleitoralismo, é só a força do Bloco que garante a recuperação do tempo de serviço dos professores". E será também essa força que contará para "avançar para reconstruir a escola pública" garantiu, acusando os partidos à direita de defenderem "o fim da escola pública como a conhecemos", com a transferência de recursos para os colégios privados ou, no caso do Chega, o despedimento de milhares de professores.
Para derrotar a direita, prosseguiu Mariana Mortágua, o que é necessário é um "entendimento mobilizador" da esquerda sobre salários, saúde, habitação, e o voto no Bloco "é o que traz soluções" nessas matérias. "Temos 8 dias para garantir a vitória e ela vai fazer-se de clareza, de proposta, de compromisso", concluiu a coordenadora bloquista.
Rafael Henriques: "Queremos um SNS próximo, eficaz e robusto"
Rafael Henriques, o cabeça de lista do Bloco pelo círculo de Leiria, começou por saudar o 25º aniversário do Bloco e dedicou-se em seguida a mostrar como os temas que o Bloco traz à campanha são preocupações vividas no quotidiano do seu distrito. Leiria tem assistido aos maiores aumentos do preço das rendas no país e a uma ausência de resposta do alojamento estudantil, "como tivemos a oportunidade de verificar nas Caldas de Rainha, onde a falta de residências universitárias empurra os jovens estudantes para fora do ensino".
Também na área ambiental "o distrito, de tanto esperar, desespera" com a inação face à poluição dos recursos hídricos, ou à desflorestação das matas nacionais. Na agricultura, o dinheiro da PAC serve "os interesses de poucos" e faltam os apoios aos pequenos agricultores, apontou Rafael Henriques.
O médico de família que pretende recuperar o mandato da esquerda em Leiria destacou ainda na sua intervenção o estado da saúde na região. "Não aceitamos que haja concelhos no distrito que não tenham médico de família, como acontece em Castanheira de Pera" nem que "se fechem serviços de saúde de proximidade". Por isso "é preciso dar perspetiva de carreira e salários dignos para todos os profissionais de saúde", além de autonomia nas unidades de saúde, menos burocracia e mais valências no SNS, como nutricionistas, psicólogos, dentistas e higienistas orais. "Queremos um SNS próximo, eficaz e robusto", concluiu Rafael Henriques, recordando que os problemas diagnosticados por João Semedo e António Arnaut no seu livro de 2017 continuam atuais.
Heitor de Sousa: "Leiria não tem sistema de transportes públicos digno desse nome"
O primeiro deputado bloquista eleito por Leiria também interveio neste jantar-comício. E afirmou que a eleição de um deputado pelo distrito é não apenas "um objetivo possível" como a forma de alcançar "as melhores condições para concretizar os principais objetivos do nosso compromisso eleitoral" no que diz respeito à "defesa, reforço e melhoria do Serviço Nacional de Saúde". Para Heitor de Sousa, Rafael Henriques é o melhor protagonista para estas lutas.
Num distrito em que "90% da mobilidade diária é feita com recurso a automóvel privado", a maior percentagem no país, "não há sistema de transportes públicos digno desse nome", pois ao contrário das Áreas Metropolitanas onde os transportes estão integrados no mesmo passe social, "aqui toda a minha gente paga e os comboios, os autocarros andam cada um para o seu lado", completamente desarticulados.
"Temos aqui de fazer o que nunca foi feito: criar sistemas públicos municipais e intermunicipais de transportes para dar resposta cabal às necessidades das populações, mas também estruturar os fluxos pendulares com os municípios vizinhos, com preços equivalentes a 50% do que existe na região de Lisboa", defendeu Heitor de Sousa, não esquecendo a urgência da conclusão da requalificação da linha do Oeste.
Sofia de Portugal: "Um artista não faz teatro para pagar as contas"
A atriz Sofia de Portugal, com três décadas de experiência no teatro, falou das dificuldades dos trabalhadores da cultura, lembrando que "artista não faz teatro para pagar as contas". "Eu não sei o que queremos fazer à nossa Cultura com este Orçamento do Estado, mas sei como é que nós, artistas, em Portugal vivemos com este Orçamento de Estado". E apontou a precariedade na profissão, em que a lógica comercial leva muitos "a deixarem de ter lugar nas televisões e nos teatros" quando a idade avança.
"Eu há 20 anos ganhava o mesmo do que ganho hoje. No entanto, as contas subiram 10 vezes", apontou Sofia de Portugal, considerando-se "privilegiada" por ter trabalho, ou melhor, vários trabalhos que tem de conciliar para conseguir compor o orçamento familiar com três filhas. Aos que dizem que "os privilegiados é que fazem arte em Portugal", responde que "não é verdade", pois os artistas são "pessoas com causas e que vivem por elas e que trabalham muito para continuar a lutar pela cultura".