Mariana Mortágua dedicou a sua intervenção no comício de Coimbra do Bloco de Esquerda, na noite desta sexta-feira, às questões ambientais. E apesar de ter começado por traçar o quadro das alterações climáticas, preferiu, “em vez do receio de um futuro a ferver”, falar de “soluções para uma vida boa”.
A coordenadora bloquista encontra nas cidades “uma das chaves para combater as alterações climáticas” e destaca “dois grandes desafios” na política urbana: a produção de energia e os transportes. No primeiro tema defende a produção de energia por fontes renováveis nas cidades porque “a produção solar não tem que estar reduzida ao negócio das megacentrais fotovoltaicas” mas pode ser feita “em pequenos projetos instalados em edifícios industriais, comerciais e residenciais”. Nesse sentido, o Bloco avança com a proposta da criação de uma agência para o investimento público descentralizado na energia solar e a aposta nas Comunidades de Energia Renovável.
Sobre transportes, adianta que “só há uma resposta: transportes públicos”, criticando “a ladainha” de que “o problema das deslocações é resolvido com mais estradas, mais viadutos, mais asfalto, mais carros”. Pelo contrário, o Bloco quer mais comboios urbanos, uma “maior rede de metro e de elétricos rápidos, mais autocarros e ciclovias".
O partido pretende também fazer o combate à pobreza energética através de “um programa para garantir o conforto térmico das famílias em risco de pobreza energética”. Esta é uma das medidas de mitigação dos efeitos das alterações climáticas que apresentou, complementando com as ideias de que “precisamos de mais árvores, mais jardins e matas perto das casas” e de que é preciso “proteger as nossas casas das cheias intensas e de garantir que essa água não se perde e permite enfrentar depois os períodos de seca”.
Por último, acrescentou “que nada desta agenda de ação climática pode avançar com a direita. Com a direita só há retrocesso”. Para ela, “o que se retira das declarações do candidato do PSD por Santarém, das justificações de Montenegro ou da tradição negacionista da IL, é sempre o mesmo: querem convencer-nos de que travar a crise climática significa cortar empregos, pagar mais impostos, perder conforto nas nossas vidas”. Ou seja, a direita quer “enganar as pessoas” e tenta “assustar o povo”.
Pelo contrário, a resposta às alterações climáticas é “a grande oportunidade para uma transformação da nossa economia que garanta uma verdadeira planificação ecológica e de justiça social”. Deu aqui o exemplo da agricultura, na qual “a voz do latifúndio, a agressividade do projeto da agricultura e do eucalipto intensivo e super-intensivo são a condenação da agricultura, a condenação da floresta”. Ao invés, o Bloco propõe “uma nova política agrícola e industrial ao serviço do combate às alterações climáticas” e que crie “novos empregos qualificados, bem pagos, com direitos”.
A política que importa é aquela que não se divorcia da vida concreta das pessoas concretas
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Miguel Cardina, cabeça de lista do Bloco por Coimbra, invocou a primeira campanha do Bloco e as palavras de Miguel Portas que insistia “que a política que importa é aquela que não se divorcia da vida concreta das pessoas concretas” para vincar que “não precisamos de heróis” porque as pessoas comuns “são a esperança para o país que queremos”.
O candidato destacou cinco prioridades para o distrito. A habitação, já que “em Coimbra, é impossível viver neste momento viver na baixa ou na alta”, exemplificando ainda com aumentos noutros pontos do distrito como Condeixa ou Miranda do Corvo. A saúde, na qual é preciso “investimento e condições para atrair e reter profissionais”. A justiça, propondo o Bloco a criação de um Serviço Nacional de Justiça que “garanta o acesso universal aos tribunais contra a seletividade atualmente imposta pelas custas judiciais” e “uma Justiça que respeite quem nela trabalha”.
As duas últimas prioridades assinaladas foram a economia e o território, já que “Coimbra precisa de reganhar centralidade, potenciando o que será a linha de alta velocidade e cuidando do decido económico e social”, e a educação, a cultura e a ciência. Infelizmente, “temas muito pouco falados nesta campanha”, apesar de não haver “democracia densa sem pensamento crítico”, nem “conhecimento científico sem instituições de ensino superior robustas”, nem respeito por quem trabalha na cultura, na educação e na ciência, sem o combate decidido à precariedade”.
“Não digam que é impossível o que transforma as vidas sofridas em vidas boas”
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José Manuel Pureza lembrou o comício do Bloco de há oito anos em que João Semedo “foi ao fundo de si mesmo buscar força e, contra todas as limitações que a doença lhe impunha, fez uma intervenção cheia de determinação”. Fê-lo não só para invocar a “lição de combatividade que a sua vida, até ao fim, nos deu” mas também para realçar que “neste tempo de sombras, em que a democracia avista, tão próximo, o abismo, todos temos de ir ao fundo de nós mesmos buscar as forças necessárias para o combate”.
O combate de que falava é “pela democracia toda, a que é política, mas que, para o ser, é também económica e social e cultural”, afirmou enunciando em seguida várias das causas caras ao partido. E é também “esse combate frontal contra a raiva vingativa da extrema-direita para com tudo o que andámos desde Abril, contra uma direita apostada em desfazer tudo aquilo que é de todos e em fazer de tudo um negócio de poucos, contra uma direita que quer que a vida má de muitos seja o penhor da boa vida de uns quantos”.
O Bloco, assegurou, “fará com que propostas que alguns teimam em dizer impossíveis se tornem solução concreta para as vidas sofridas à nossa volta”. E recordou que “esses mesmos” em 2015 diziam que era impossível a subida das pensões ou parar os despedimentos. Por isso, reforçou, “não digam que é impossível o que transforma as vidas sofridas em vidas boas”, “os caminhos de esperança e de alegria para a grande maioria do nosso povo”.
"O PS, sem a força da esquerda, é inútil"
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António Ferreira, mandatário distrital, começou por falar no voto útil, criticando a ideia de entregar o voto “ao candidato menos pior, na esperança de que o resultado das eleições seja menos doloroso” e defendendo que precisamos de um voto muito mais ambicioso”. Portanto, do seu ponto de vista, o verdadeiro voto útil é aquele pela habitação que dá “poder a propostas concretas que promovem políticas de moradia justas e inclusivas”, “em quem se compromete a regular o mercado imobiliário, evitando práticas expectativas que provoquem aumento descontrolado das rendas”, nos “candidatos comprometidos com a educação pública”, que apoie “candidatos com histórico de apoio a políticas públicas de saúde” e que querem “investir mais na SNS” e “tratar os profissionais de saúde com respeito”:
Em seguida, reconheceu que o Bloco “tinha razão” no Orçamento de Estado do PS antes da maioria absoluta porque “não era possível continuar a fazer de conta de governo do PS que assumia compromissos que não cumpria, que prometia investir no SNS e na educação mas não concretizava”. Depois, “o PS da maioria absoluta não trouxe estabilidade, não defendeu o SNS, não respeitou os professores” já que “o PS, sem a força da esquerda, é inútil”.