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Manuel Vicente e general Dino acusados de desvio de dinheiro de Angola

O ex-vice-Presidente angolano e o antigo chefe da comunicação de Eduardo dos Santos são acusados pelo Projeto de Investigação sobre Crime Organizado e Corrupção. 296 milhões de euros terão saído irregularmente do país.
Kwanzas, foto do Maka Angola.
Kwanzas, foto do Maka Angola.

O Projeto de Investigação sobre Crime Organizado e Corrupção divulgou esta segunda-feira uma investigação na qual aponta algumas das mais altas figuras do poder na altura da presidência de Eduardo dos Santos como estando envolvidas num esquema para transferir irregularmente dinheiro de Angola para a União Europeia.

O esquema chegava ao mais alto nível. Manuel Vicente, que era vice-Presidente, e o general Dino, um dos homens mais ricos do país e que chefiou a comunicação pessoal de Eduardo dos Santos, são considerados como os prováveis arquitetos destas transferências. A investigação apresenta os operacionais como funcionários do governo e altos funcionários bancários.

Os valores desviados de Angola estarão na ordem dos 296 milhões de euros. Os veículos terão sido bancos como o Banco Africano de Investimentos , fundado, entre outros, pelo próprio Manuel Vicente, o Banco de Negócios Internacional e o Banco Privado Atlântico. “As elites angolanas alargaram os canais de transferência através da criação de sucursais do BNI e do BPA no estrangeiro”, pode ler-se no texto. Portugal e Cabo Verde eram as localizações principais destas sucursais. Localização é uma forma de dizer porque não se tratava de procurar construir uma empresa bancária mas apenas garantir a manutenção do esquema. O Banco Privado Internacional, por exemplo, estaria estabelecido em Cabo Verde tendo apenas uma caixa postal e sem qualquer outro serviço ou presença física. Manuel Vicente tinha 35 por cento das ações do banco. Outras figuras como Mário Palhares com 30 por cento e o general João de Matos com 25 por cento dominavam o resto.

A estes bancos cabia o papel de não aplicar procedimentos de controlo e o dinheiro acabava por ir parar a empresas sediadas na Europa e que pertenciam aos funcionários envolvidos ou às suas famílias. Também "empresas alegadamente associadas a Isabel dos Santos, a filha do antigo presidente, receberam milhões".

O dinheiro era proveniente das empresas públicas do país, nomeadamente da Sonangol. 140 milhões vieram de um empréstimo ao banco central de Angola que nunca foi pago.

O trabalho, assinado por Khadija Sharife e Mark Anderson, refere ainda que este esquema não passou de todo despercebido em Portugal. Duas auditorias, feitas há quatro anos, terão detetado violações de dezenas de regulamentos bancários. Milhões de transferências foram classificadas como suspeitas. O que não impediu o funcionamento, alegadamente, até hoje de toda a rede.

O Projeto de Investigação sobre Crime Organizado e Corrupção, OCCRP em inglês, define-se como uma rede de jornalistas de investigação e de meios de comunicação independentes. Disponibiliza ainda uma base de dados a OCCRP Aleph com informações sobre milhões de casos judiciais, contratos e informações de empresas.

Apresenta como objetivo “expor crimes e corrupção ao mais altos níveis.” Os seus responsáveis insistem na independência. Contudo, o projeto é financiado e apoiado por instituições de governos como o dos Estados Unidos, Reino Unido, Suécia e Dinamarca e por fundações de empresas como a Google News Iniciative, a Rockefefler Brothers Fund e a Open Society.

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