Foi há dez anos que o escândalo rebentou: a Volkswagen tinha manipulado o software que analisava os níveis de óxidos de nitrogénio vendendo assim milhões de automóveis como se emitissem menos poluição do que na realidade lançavam para o meio ambiente. Para além dos da marca própria faziam também parte do esquema os da Audi, Skoda e Porsche. Esta semana chegou a condenação de quatro antigos diretores da empresa, dois a pena de prisão efetiva mas ainda correm mais quatro processos que envolvem 31 acusados.
Um estudo revelado esta quarta-feira mostra a dimensão dramática da fraude: esta causou 124 mil mortes prematuras na União Europeia e Reino Unido entre 2009 e 2024. A responsabilidade do trabalho é do Centro de Investigação sobre Energia e Ar Limpo a pedido da ClientEarth. E, para além das mortes prematuras, calcularam-se 15 milhões de dias de baixa e um prejuízo económico de 760 mil milhões de euros.
Às estimativas sobre os efeitos passados somam-se ainda projeções para o futuro. No período entre 2025 e 2040 poderão morrer prematuramente mais 81 mil pessoas e haver prejuízos na ordem dos 430 mil milhões de euros entre 2025 e 2040.
Jamie Kelly, o autor principal deste trabalho, diz que os cálculos “revelam os efeitos generalizados e devastadores para a saúde das emissões excessivas de gasóleo: milhares de vidas ceifadas, inúmeras crianças que desenvolvem asma e um enorme fardo de doenças crónicas”. O dedo é apontado pelos autores do estudo não apenas à Volkswagen. Pelo contrário, vincam a existência de inúmeras provas de que a manipulação de emissões é uma prática transversal na indústria automóvel. Só que os governos do espaço da União Europeia e do Reino Unido não têm tomado medidas para a contrariar.
Emily Kearsey, advogada da ClientEarth, afirma que "os governos têm de parar de arrastar os pés e responsabilizar já os poluidores" e que "a Comissão Europeia também tem um papel fundamental a desempenhar para garantir uma acção conjunta. Se forem efectuadas recolhas, a lei estabelece claramente que cabe aos fabricantes suportar os custos", salienta.