Reino Unido

Governo trabalhista cortou ajuda ao aquecimento e foi derrotado na conferência do partido

26 de setembro 2024 - 13:00

O governo de Starmer cortou o acesso a perto de dez milhões de pensionistas a um apoio social destinado a ajudar a aquecer as casas no inverno. A conferência do Labour aprovou agora uma moção em sentido contrário.

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Sharon Graham e outros delegados votam na moção anti-cortes.
Sharon Graham e outros delegados votam na moção anti-cortes. Foto de ADAM VAUGHAN/EPA/Lusa.

O “Winter fuel payment” é um apoio dado aos idosos pelo Governo britânico para que consigam aquecer as casas adequadamente no Inverno. Foi uma medida introduzida pelo executivo de Tony Blair em 1997. E agora foi também outro Governo trabalhista, o de Starmer, que decidiu mudar as regras, até então dependentes da idade (atualmente mais de 66 anos), cortando o acesso a perto de dez milhões de pensionistas.

A medida está a enfrentar forte contestação. Por exemplo, uma petição iniciada pela organização não governamental Age UK conseguiu reunir mais de meio milhão de assinaturas.

Esta quarta-feira foi a vez da Conferência do Partido Trabalhista ser palco dessa oposição com a sua direção a perder a votação sobre uma moção que defendia a reversão dos cortes nestes apoios, impulsionada pelos setores sindicais.

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A votação foi feita de braço no ar, depois do presidente da assembleia ter rejeitado uma votação em urna e foi bastante renhida. A direção do partido também tentou menorizar o impacto mediático do debate sobre esta questão, alterando a ordem de trabalhos e fazendo com que este apenas acontecesse depois dos discursos ministeriais. A mudança de horário foi ainda criticada porque fez coincidir o momento desta votação com uma altura em que já vários dos apoiantes da moção anti-austeridade tinham saído da conferência para estarem no funeral de Andy Kerr, ex-secretário-geral-adjunto do Communications Workers Union, sindicato co-signatário da moção.

À secretária-geral do sindicato Unite coube a defesa da moção, tendo criticado o Governo por cortar na ajuda “deixando os super-ricos intocados” e defendendo mais investimento nos serviços públicos e na indústria. Um investimento que é possível na “sexta mais rica economia do mundo” que não precisa de uma “austeridade”.

Os apoiantes da direção afeta ao primeiro-ministro bem repetiram que em causa estava a responsabilidade na gestão do dinheiro dos contribuintes que não conseguiram convencer a maioria. Liz Kendall, secretária de Estado do Trabalho e das Pensões, foi uma das que argumentou nesse sentido, alegando que esta medida não tinha sido querida ou prevista pelo seu Governo mas que era preciso provar que “quando prometemos que nos podiam confiar com o dinheiro dos contribuintes era a sério”, já que ao entrar em funções encontraram um “buraco negro” nas contas.

A votação não tem valor vinculativo para o Governo, mas não deixa de ser um golpe profundo na sua legitimidade. O deputado Richard Burgon, eleito pelos trabalhistas mas suspenso por ter votado contra o projeto do Governo de manter a medida conservadora do limite de dois filhos no acesso a alguns benefícios sociais, vincou ao Guardian que Starmer deveria respeitar o voto da conferência, apesar de não acreditar que isso vá acontecer porque “eles veem uma mudança de posição como humilhante”.

Ao mesmo jornal, Simon Francis, coordenador da End Fuel Poverty Coalition, considerou que a conferência compreendeu o que os ministros não perceberam: “retirar o winter fuel payment tão em cima da hora e a tanta gente é errado”. Ele insiste que “se o Governo persistir nos cortes, estará a jogar com a capacidade dos pensionistas se aquecerem neste inverno e, com isso, com a sua saúde e bem-estar”.

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