O governo tunisino retrocedeu e anunciou a abertura de uma investigação aos ataques que provocaram incêndios a bordo de duas embarcações da flotilha humanitária para Gaza nas madrugadas de terça e quarta-feira. Em comunicado, o Ministério do Interior da Tunísia diz que o objetivo da investigação é “que a opinião pública no mundo inteiro, e não apenas na Tunísia, seja informada dos que planearam [o ataque], dos cúmplices e dos executantes desta agressão" que considera “premeditada”.
Flotilha para Gaza
Segundo barco atacado por drone, Israel bombardeia Gaza e ataca no Qatar
A primeira reação oficial ao primeiro ataque feito ao principal barco da flotilha, que navega com bandeira portuguesa e que transporta a delegação portuguesa, tinha sido o de negar que se tratasse de um ataque, com o porta-voz da Guarda Nacional Houcem Jebabli a afirmar que “nenhum drone foi detetado” naquela zona e o governo a classificar de “completamente infundados” os relatos do disparo de uma bomba incendiária por um drone que sobrevoava o navio, sugerindo que o incêndio pudesse ter tido origem num cigarro mal apagado.
Em reação a esta mudança de posição, um dos organizadores tunisinos da flotilha, Ghassen Henchiri, lembrou à agência France Presse que desde o primeiro dia tinham dito que se tratava de “um ataque claramente premeditado”. "As autoridades são livres de identificar ou não o culpado. Nós dizemos que ninguém no mundo tem interesse em atacar a flotilha, com exceção de Israel", acrescentou.
A mudança de posição das autoridades tunisinas segue-se à investigação do prestigiado site de investigação forense Bellingcat sobre os vídeos e imagens divulgadas dos dois ataques, desmentindo quer as conclusões preliminares da Guarda Nacional quer as acusações postas a circular pela máquina de propaganda do governo israelita nas redes sociais de que teriam sido os próprios tripulantes a causar o incêndio.
“Festa em Ibiza”? Chega e IL apanhados a mentir sobre a flotilha
Em duas entrevistas televisivas, o líder do Chega André Ventura e o deputado da Iniciativa Liberal Mário Amorim Lopes repetiram em direto na televisão que a flotilha humanitária teria passado pela ilha de Ibiza para participar numa festa noturna. Esta mentira propagada por sites de extrema-direita israelitas e espanhóis era acompanhada de imagens da festa popular realizada em Barcelona nos dias anteriores à partida e foi rapidamente desmentida pelos sites de fact-checking e os porta-vozes da flotilha.
“Essas alegações são puramente falsas. A flotilha nunca esteve em Ibiza, esteve em Menorca mas nunca saiu para terra, e esteve para recuperar depois de uma tempestade que nos destruir parte dos barcos e deixou 30% da frota em grandes problemas”, disse Mariana Mortágua num vídeo em que sublinha que “estas mentiras colocam em risco esta missão e a vida das pessoas que aqui estão. Mais do que isso, elas servem para desviar a atenção para o que se passa em Gaza”.