Governo britânico admite venda ilegal de armas à Arábia Saudita

17 de setembro 2019 - 14:11

Liz Truss, secretária de Estado do governo de Boris Johnson, pediu desculpas pelo governo ter emitido duas licenças de vendas de equipamento militar que pode vir a ser usado no Iémen. Por ordem do tribunal, as vendas de armamento à Arábia Saudita estão proibidas. O Labour pede a sua demissão.

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Protesto contra venda de armas britânicas para a guerra no Iémen. Janeiro de 2018.
Protesto contra venda de armas britânicas para a guerra no Iémen. Janeiro de 2018.Foto de Alisdare Hickson. Flickr.

Em junho passado, o Tribunal de Recurso britânico tinha decidido que a emissão de licenças governamentais para a exportação de armas para a Arábia Saudita era “ilegal”. O governo tinha na altura acatado a decisão do tribunal, declarando o congelamento dessas emissões.

Esta segunda-feira, depois de se ter sabido que afinal foram atribuídas mais duas licenças de venda de armas para este país, Liz Truss, secretária de Estado do comércio internacional, reconheceu o facto e pediu desculpas.

Em carta ao presidente do comité de controlo das exportação de armas, Truss esclareceu que tinha endereçado um pedido desculpas “sem reservas” ao Tribunal de Recurso por “inadvertidamente” ter violado a decisão judicial, alegando ter sido um “erro”. A governante referiu ainda a existência de duas outras licenças que, não violando diretamente o que o tribunal declarara, eram consideradas “inconsistentes com o compromisso amplo” assumido pelo governo de não atribuir licenças de equipamento que possa vir a ser usado na guerra do Iémen.

O principal partido da oposição reagiu com um pedido de demissão. Barry Gardiner, responsável pela área do comércio do governo sombra dos trabalhistas, diz que, assim, “parece que há uma lei para os ministros conservadores e outra para todas as outras pessoas” e que Liz Truss deve esclarecer cabalmente “porque é que o seu departamento falhou de forma tão miserável”.

Para Gardiner considera “impressionante” que a secretária de Estado “pense que um pedido de desculpas a vai safar” uma vez que se trata da venda de armas para uma guerra na qual “milhares de pessoas foram mortas.” O Labour exige ainda a suspensão imediata de todas as vendas de armas à Arábia Saudita.

Também a Campanha Contra o Comércio de Armas reagiu de forma muito crítica. Segundo este movimento, desde o início da guerra do Iémen em 2015, o governo britânico terá licenciado a venda de armas no valor de cerca de seis mil milhões de euros. O seu porta-voz, Andrew Smith, declarou que estas notícias desmentem a imagem que o governo britânico sempre quis passar: “sempre nos foi dito o quão rigoroso e robusto supostamente era o sistema de controlo de exportação de armas do Reino Unido mas isto mostra que nada poderia andar tão longe da verdade”.