Goldman Sachs diz-se enganada pelo Banco de Portugal

27 de dezembro 2014 - 17:10

Esta semana o Banco de Portugal comunicou à CMVM que a dívida de 548,3 milhões de euros do BES a um fundo criado pela Goldman Sachs não entra nas contas do Novo Banco. Os norte-americanos dizem-se enganados e prometem ir a tribunal.

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O Banco de Portugal tirou a dívida do BES à Goldman Sachs das contas do Novo Banco. Norte-americanos prometem contestar a decisão de Carlos Costa. Foto Pedro Nunes/Lusa

Numa altura em que o Governo e o Banco de Portugal procuram compradores para o Novo Banco, Carlos Costa tornou o negócio ainda mais atraente para os bancos concorrentes, retirando 548,3 milhões de dívida das suas contas. Mas a fatura pode vir a sobrar para os contribuintes, caso a justiça dê razão à Goldman Sachs.

A história da Oak Finance Luxembourg, veículo financeiro criado pela firma de investimento norte-americana, começa com a necessidade de financiar uma refinaria na Venezuela. A chinesa Wison Engineering Services tinha ganho um contrato de 834 milhões de dólares junto da petrolífera estatal PVDSA, também ela credora de empresas do Grupo Espírito Santo. Segundo o Wall Street Journal, foi essa quantia que o BES, que no início de julho já estava afastado dos mercados, pediu emprestado para supostamente financiar a construção da refinaria.

Para a Goldman Sachs, o negócio até podia dar lucro, ao adquirir essa dívida a juros de 3,5% e revendendo-a a fundos especulativos e outros investidores, cobrando ao mesmo tempo comissões chorudas à Oak Finance. Mas o colapso do BES veio poucas semanas depois e a maior parte da dívida ficou nas mãos da Goldman Sachs. A única garantia seria o empréstimo, que o Banco de Portugal acaba de colocar no “banco mau”.

Goldman Sachs diz ter compromisso escrito por parte do Banco de Portugal

"Quando o Novo Banco foi criado, a Goldman Sachs obteve a confirmação por parte do Banco de Portugal de que toda a dívida sénior do Banco Espírito Santo, como as obrigações Oak Finance, seriam transferidas para o Novo Banco. A 11 de agosto de 2014, um alto representante do Banco de Portugal explicitamente confirmou por escrito à Goldman Sachs a transferência dessas obrigações sénior para o Novo Banco”, revela a nota emitida pela Goldman Sachs.

A Goldman Sachs diz ter idênticas garantias escritas por parte da administração do Novo Banco de que a dívida à Oak Finance se encontrava no seu balanço, pelo que reage ao “inesperado anúncio público do Banco de Portugal” prometendo recorrer a todas as vias para reverter essa decisão. Segundo o semanário Expresso, o Banco de Portugal afirma que na resposta à Goldman Sachs deu apenas indicações genéricas, nunca se referindo à Oak Finance em concreto. Só agora diz ter confirmado que o veículo financeiro pertencia à Goldman Sachs, que tinha uma posição no capital do BES superior a 2%, razão para a dívida ter agora passado para o "banco mau".

Caso “Oak Finance” com implicações políticas na China

Para além da imprensa portuguesa e da imprensa económica norte-americana, a notícia não passou despercebida em Pequim, com a agência oficial de notícias Xinhua a destacar a ameaça da Goldman Sachs. É que por detrás do negócio da Oak Finance está o maior contrato de sempre de uma empresa chinesa no petróleo da América Latina, a construção de uma refinaria na Venezuela que a Wison Engineering Services subcontratou a empresas estatais chinesas, poucos dias antes do colapso do BES.

Tal como o GES, a empresa chinesa também se viu envolvida num escândalo e teve as suas ações suspensas na Bolsa de Hong Kong desde setembro de 2013 até ao mês passado. O seu fundador e acionista principal, Hua Bangsong, continua em prisão domiciliária no âmbito de uma investigação sobre corrupção, à semelhança de outras figuras ligadas à indústria do petróleo e a altos cargos governamentais.

O jornal South China Morning Post referiu no mês passado os rumores de que Hua Bangsong - que se estreou no ranking dos bilionários da Forbes no ano em que foi preso - seria um testa de ferro do filho de um importante dirigente do PC chinês - Zhou Yongkang - com responsabilidades na companhia estatal de petróleo PetroChina, conseguindo assim vários contratos. Mas as acusações contra Hua Bangsong acabaram por resumir-se a um suborno em 2009 e associação criminosa para cometer fraude num concurso em 2004, segundo dizem fontes da empresa.

Já este mês, as investigações alargaram-se à administração da petrolífera Sinopec, com um dos vice-presidentes e principais gestores da empresa a ser detido.  A maioria dos visados nas investigações tem em comum os laços a Zhou Yongkang, que entre 2007 e 2012 foi um dos nove membros do Comité Permanente do Politburo do Comité Central do Partido Comunista da China, o organismo político mais poderoso do país. Zhou Yongkang foi o responsável máximo pela segurança interna e energia, antes de se tornar o mais alto dirigente a ser perseguido por corrupção.