G20 recebido com protestos no Japão

28 de junho 2019 - 17:11

A repressão em Hong Kong, os perigos do carvão e dos outros combustíveis fósseis para o clima, a ameaça de guerra na península coreana, as bases militares dos EUA no Japão são alguns dos temas que marcam a semana de protestos que recebe a cimeira do G20 em Osaka.

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Manifestantes protestam contra o G20 em Osaka.
Manifestantes protestam contra o G20 em Osaka. Fonte: twitter

Antes do G20 chegar ao Japão, já estava a decorrer uma semana de protestos para receber a cimeira dos países mais ricos. Esta foi convocada pelo Fórum Social de Osaka através de um manifesto que juntou várias associações japonesas com o título “adeus Trump! Adeus Abe! Juntemo-nos pelo nosso futuro!”.

Estes ativistas pensam que “as vozes das pessoas de base devem decidir o futuro da sociedade”. Por isso, “não mandatam os auto-proclamados líderes do mundo que se reunem enquanto G20 para decidir nada”. Dizem-se especialmente preocupados com o “papel extraordinário e perigoso da administração Trump nos EUA e do governo de Shinzo Abe no Japão que colabora de perto com ele”. Vêem Trump como uma ameaça à democracia que “aumenta dramaticamente o antagonismo e a crueldade”.
O apelo à mobilização manifesta a sua solidariedade com “os trabalhadores de todo o mundo que lutam contra a dura ofensiva neoliberal, os refugiados que estão ameaçados de expulsão nos EUA e na Europa, as pessoas que defendem a sua terra e florestas do extrativismo, as pessoas que levantam as suas vozes pela dignidade e que lutam sob condições difíceis”.
Ao mundo de “guerras prolongadas e de construção do militarismo, falhanços catastróficos das políticas económicas neoliberais, crescimento do racismo e do fanatismo religioso, crise existencial do ambiente” querem opor a luta pela paz na península da Coreia, o fim das políticas neo-liberais, um mundo com políticas de sustentabilidade, o fim do nuclear, o combate à pobreza e o fim da opressão dos direitos democráticos em nome da segurança.

Contra o capitalismo sujo

Outro dos temas em destaque na agenda dos protestos tem sido a ecologia. Protesta-se contra as chamadas “companhias sujas”, as que lucram com o carvão e os combustíveis fósseis, empresas como a Marubeni, Mizuho ou Sumitomo.

Os Amigos da Terra do Japão, a Rede Kiko e o Centro Japonês para um Ambiente e Sociedade Sustentáveis fizeram ações esta semana a coincidir com as reuniões de accionistas da Marubeni e Sumitomo exigindo que abandonem a exploração do carvão e responsabilizando-as “enormemente” pelas alterações climáticas.

Manifestantes com máscaras de líderes do G20 protestam contra o uso do carvão em Osaka.

E, esta sexta-feira, em Osaka as Organizações Não-Governamentais Japonesas juntaram-se para exigir o fim urgente da exploração do carvão. NA ação, Kimiko Hirata, da Rede Kiko, salientou que “por todo o país, os residentes no Japão estão a protestar contra o desenvolvimento de novas centrais elétricas a carvão e o G20 é uma oportunidade excelente para o Japão se orientar para a eliminação do carvão.”

E Hozue Hatae, dos Amigos da Terra, acrescentou que “o Japão está a exportar energia obtida através da combustão do carvão utilizando dinheiro público.” Este ambientalista sublinha a existência de várias centrais elétricas japonesas fora do país que causam “destruição ambiental, expropriações de terras e perdas de qualidade de vida”.

Aliás, o protesto contra o carvão japonês, ao longo desta semana, não se limitou a Osaka. Um abaixo-assinado juntou 80843 assinaturas para exigir o fim da utilização do carvão e em cinco cidades de outros países asiáticos houve protestos contra as potências financeiras japonesas que comandam esta indústria. Em Kobe, no Japão, o cenário escolhido foi o local para onde está projetada mais uma central a carvão, apenas a 400 metros de uma área densamente povoada. O protesto foi acompanhado por um balão insuflável gigante que era a imagem do Primeiro-Ministro japonês a sair de um balde de carvão. Em Manila, por exemplo, os manifestantes escolheram outro personagem para atacar a indústria poluente. Foram com o fato do personagem Pikachu protestar à porta da embaixada do Japão. Austrália, Bangladeche, Índia e Paquistão assistiram igualmente a protestos com a mesma natureza.

Hong Kong, perto ou longe de Osaka

Os protestos contra a lei de extradição que o governo chinês e as instituições políticas de Hong Kong pretendem impor ao povo do território também chegaram a Osaka. As manifestações no território autónomo chinês não abrandaram e têm tido o foco, nas últimas semanas, de fazer chegar a Osaka a sua voz de protesto contra política de Xi.

Para esse efeito, esta quarta-feira mesmo manifestantes que se dirigiram aos consulados dos países que integram o G20 para entregar petições. Querem que o governo chinês seja pressionado para retirar a polémica lei.

Na quinta-feira houve estradas bloqueadas, a sede de um departamento governamental cercada pacificamente e bastonadas policiais contra os manifestantes que gritavam “lutem pela justiça”, “liberdade para Hong Kong” e Democracia Já”.

E esta sexta-feira, vários manifestantes, cerca de 50 vindos de Hong Kong com a boca tapada, fizeram eco destes protestos em Osaka. Dizem que a democracia e as liberdades estão ameaçadas.

Manifestantes protestam contra a lei de extradição de Hong Kong no G20 de Osaka.

O nacionalismo e o anti-militarismo também vão aos protestos

32 mil polícias estão destacados para manter afastados os ativistas de várias outras causas em Osaka. Haverá protestos nacionalistas, dirigidos igualmente contra o presidente chinês Xi, sobre a disputa nas ilhas Diaoyu entre China e Japão, conhecidas no Japão como ilhas Senkakus, mas também contra Putin devido às disputas com a Rússia a norte de Hokkaido.

Já os grupos anti-militaristas dirigem a sua voz, sobretudo, contra Trump. Quer pelas ameaças guerreiras no Irão e na Coreia, quer pela presença de bases militares dos EUA no país. Em agosto do ano passado dezenas de milhares de japoneses manifestaram-se contra a deslocação de uma base militar norte-americana para Okinawa e, em fevereiro, um referendo local obteve 72% dos votos contra as instalações militares.

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