Dezenas de milhares de pessoas manifestaram-se este sábado em 130 cidades de França contra a política de expulsão de ciganos e a política anti-imigração do governo de Nicolas Sarkozy. Houve também manifestações diante das embaixadas de França em Portugal (Lisboa e Porto), Espanha, Bélgica, Itália, Reino Unido, Sérvia.
Em França, os protestos reuniram mais de 30 mil pessoas, segundo a polícia, ou cerca de 90 mil, segundo os organizadores. Os protestos foram convocados por organizações de defesa dos direitos humanos, anti-racistas, sindicatos e partidos de esquerda.
A manifestação de Paris reuniu de 12 a 50 mil manifestantes e foi encabeçada por ciganos romenos, seguidos de personalidades políticas, sindicais, associativas ou artísticas. A principal palavra-de-ordem era: "Não à xenofobia e à política de repressão. Liberdade, igualdade, fraternidade".
Desde o início do ano, a França já expulsou mais de 8 mil ciganos. Mais de cem acampamentos considerados ilegais foram desmantelados e o governo anunciou que pondera a retirada da nacionalidade francesa aos criminosos de origem estrangeira. As medidas indignaram a sociedade civil e a oposição e suscitaram preocupação da ONU, do Vaticano e até da Comissão Europeia.
"A linha vermelha foi ultrapassada", advertiu o presidente da Liga de Direitos Humanos francesa, Jean-Pierre Dubois.
"Esta é para mim uma jornada de combate contra o racismo e a xenofobia", disse aos manifestantes o presidente da câmara de Paris, o socialista Bertrand Delanoe.
Concentração em Lisboa
Cerca de uma centena de pessoas protestaram em Lisboa contra a expulsão de ciganos de França.
Representantes de associações de ciganos e de defesa dos Direitos Humanos, como o SOS Racismo, estiveram presentes para expressar o seu repúdio pela política do governo de Sarkozy de expulsar romenos de etnia cigana do território francês.
A antiga secretária de Estado da Educação socialista Ana Benavente e Luís Fazenda e João Teixeira Lopes, do Bloco de Esquerda, estiveram presentes.
"Não à xenofobia", "não ao racismo" e "direitos para todos os imigrantes" foram as palavras-de-ordem mais gritadas. Para Mamadou Ba, do SOS Racismo, "os ciganos, os imigrantes e as pessoas diferentes não podem pagar pelos erros da construção europeia", nem serem o "bode expiatório" em momentos de crise e da forma como a União Europeia está a gerir a mobilidade no espaço europeu. "Esta posição de Sarkozy também serve para alimentar um discurso político securitário" com fins eleitoralistas, advertiu.
João Teixeira Lopes, do Bloco de Esquerda, declarou à Lusa que a manifestação hoje realizada "é por uma ideia de Europa que não aquela que temos hoje", apontando que os ciganos estão a ser expulsos não só de França, mas também de países como a Suécia e a Itália, lembrando que esta etnia sofre também perseguições terríveis na Roménia e Bulgária, seus países de origem.
No Porto, cerca de 60 pessoas concentraram-se diante do consulado de França.