Filomena Marona Beja (1944-2023): Morreu “uma das vozes mais singulares da literatura portuguesa”

02 de janeiro 2024 - 12:39

As Edições Parsifal e a família da escritora assinalam que “o património literário e humano que nos deixa é um exemplo maior de denúncia das injustiças sociais e constitui um grito vivo de defesa dos ideais de liberdade e de solidariedade, pelos quais sempre lutou e que abnegadamente defendeu”.

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Filomena Marona Beja - Foto de André Beja

Em comunicado de imprensa, as Edições Parsifal e a família da escritora comunicaram o falecimento recente de “uma das vozes mais singulares da literatura portuguesa”.

Nascida em 9 de junho de 1944, Filomena Marona Beja estudou no Lycée Français Charles Lepierre e na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. Até junho de 2008, desenvolveu a sua atividade profissional na área da documentação técnico-científica.

Desde pequena, “gostava de escrever e escrevia”, conforme afirmou em entrevista ao programa Ler Mais Ler Melhor. Entre 1996 e 1998, o primeiro livro por si publicado foi ganhando forma. O romance As Cidadãs foi aclamado pela crítica e pelos leitores. Desde então, foram publicadas cerca de duas dezenas de obras da autora, em Portugal e no estrangeiro, de géneros tão diferentes como o romance, o conto, a novela ou a crónica. Filomena Marona Beja colaborou ainda em várias publicações, das quais se destacam edições promovidas pela associação “Abril em Maio” e pela Casa da Achada.

Na sua bibliografia, há lugar para o romance Bute Daí, Zé!, editado em 2010, e que é uma homenagem ao dirigente do PSR José Carvalho, conhecido como Zé da Messa, assassinado em 1989 por um grupo de skinheads, em Lisboa. Em entrevista ao Esquerda.net, a autora destacou que “o Zé da Messa foi sempre uma pessoa consciente do que estava mal na sociedade e acabou por ser vítima de um crime de natureza política num país democrático”. “É preciso que as pessoas nunca esqueçam isto porque afinal uma sociedade democrática também têm pessoas capazes de matar movidas pelo ódio”, assinalou.

O talento literário de Filomena Marona Beja valeu-lhe prestigiados galardões, de que constituem exemplo A sopa (Âmbar, 2004), com o qual ganhou o Grande Prémio de Literatura DST, em 2006, ou A Cova do Lagarto (Sextante, 2007), que foi galardoado com o Grande Prémio de Romance e Novela da APE/DGLB. Aquando da distinção desta última obra, a autora afirmou que uma das coisas que lhe dava “imenso gozo” era “descobrir, pesquisar”. Na altura, já andava há vinte anos a recolher dados sobre Duarte Pacheco.

Em 2014, Filomena Marona Beja figurou entre os apoiantes da lista do Bloco de Esquerda, encabeçada por Marisa Matias, ao Parlamento Europeu. A autora apoiou ainda ambas as candidaturas de Marisa Matias a Presidente da República, em 2016 e 2021.

As cerimónias fúnebres realizaram-se no concelho de Sintra, onde residia desde 1967.

O Esquerda.net e o Bloco de Esquerda endereçam à sua família e amigos as mais sentidas condolências pela sua morte.