Bessemer, Alabama. Armazém BHM1. Um cenário remoto numa pequena cidade do Sul dos Estados Unidos para onde muitas atenções se voltaram nos últimos meses. Aí se vota em referendo a criação de um sindicato. Mas não é um sindicato qualquer. A ser criado será o primeiro sindicato de trabalhadores da Amazon, arriscando-se a mudar o paradigma das relações laborais no país.
Os votos estão já nas urnas mas a contagem da agência federal National Labor Relations Board promete arrastar-se ao longo da próxima semana. Isto se não forem utilizadas as várias possibilidades de recurso. Em caso de vitória da criação do sindicato, é esperado aliás que a empresa utilize tudo o que possa para atrasar o processo. Como o tentou fazer para impedir a possibilidade de voto por correspondência.
Legalmente, o sindicato só pode ser criado com uma maioria dos votos dos cerca de 5.800 trabalhadores. E a Amazon não poupou esforços para derrotar esta possibilidade, lançando dinheiro contra a sindicalização. Criou cartazes e uma página na internet, enviou cartas, pagou anúncios e contratou consultores que ganhavam dez mil dólares por dia. Também obrigou os trabalhadores a assistir a palestras em que se defendia o não ao sindicato. Do arsenal de argumentos fazia parte a ideia de que os sindicatos são um negócio que fica com o dinheiro dos trabalhadores e que a sindicalização implica perder o direito de falar por si próprio.
Do outro lado, está o Retail, Wholesale and Department Store Union. Apesar de ainda estar na expetativa do resultado, o seu presidente já clama vitória na campanha: “abrimos as portas a mais organização por todo o país e expusemos até onde os patrões vão para impedir os seus trabalhadores de ter uma voz sindical”. Muitos trabalhadores da Amazon de outros pontos do país, por exemplo, contactaram pela primeira vez o sindicato. Para além disso, acredita Stuart Appelbaum, a campanha também demonstrou a necessidade de uma reforma da lei do trabalho no país.
A apoiar o sindicato estiveram no local, para de vários outros ativistas laborais e movimentos sociais, congressistas democratas como Andy Levin do Michigan, Jamaal Bowman de Nova Iorque, Cori Bush do Missouri, Terri Sewell também do Alabama e Nikema Williams da Georgia. Depois disso foi a vez do ex-candidato presidencial Bernie Sanders, que no seu discurso disse: “A Amazon sabe que se vocês forem bem sucedidos aqui, vai-se espalhar por todo este país. Eles sabem que não são apenas os trabalhadores daqui que estavam fartos destas condições de trabalho chocantes”.