No comício do Porto deste sábado, Mariana Mortágua falou de amar o país e das cuidadoras informais. A pergunta de Tolentino Mendonça sobre o que é “amar um país” foi o mote para desconstruir um conjunto de mitos, afirmando-se que este amor “não pode ser e não é, nem arame farpado, nem ódio, nem mentira. Amar um país é proteger e cuidar”.
Por isso, escolheu falar “de algumas das pessoas que têm sido mais invisíveis na nossa sociedade, como se a sua vida não fizesse parte da comunidade, como se tivessem que ser ocultadas dentro das suas casas”, as cuidadoras informais que são pelo menos 8% da população, cerca de 800 mil pessoas, “heróis e heroínas anónimas, provas vivas da generosidade humana” que “sabem na pele o que é sofrer, sentir culpa, solidão, cansaço, as forças a esgotarem-se, e sabem que virá o próximo dia do mesmo esforço.”
A história da sua luta é “uma história lindíssima que merece ser contada” porque “quando fizeram o primeiro encontro nacional, há oito anos, em janeiro de 2016, as cuidadoras e cuidadores começaram tudo do zero, ao fim de uma eternidade de silenciamento, a própria palavra “cuidadoras” existia”. A partir daí “foram-se juntando, mostrando o que é tecer solidariedades, criando grupos nas redes sociais, saindo para o espaço público, realizando encontros, e começaram a lutar”. O Bloco de Esquerda acompanhou “esta luta desde o início” nas batalhas para que houvesse em Portugal um Estatuto do Cuidador Informal, destacando o papel de Marisa Matias neste trabalho.
Aqui chegados “falta imenso”, como reconhecer os cuidados prestados no passado, nomeadamente os anos que não contam para a reforma, que os direitos laborais sejam aplicados, já que a licença criada “tem regras absurdas: 10 dias de aviso prévio, sem remuneração, sem flexibilidade, que as cuidadoras acedam efetivamente ao subsídio de apoio que foi criado.
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O Bloco assume o compromisso de alterar estas regras contra “a história da maioria absoluta” feita de “promessas vazias, compromissos quebrados, desprezo pelas pessoas”. Sobre isto, aproveitou para comentar a entrada de António Costa na campanha eleitoral, vincando que “foi a maioria absoluta que nos trouxe aqui” e agora “o que queremos é mesmo resolver esta crise”.
A maioria absoluta falhou às cuidadoras informais, às pessoas sem médico de família, aos alunos sem professores, a quem empobrece sob a pressão da renda ou do banco, a quem não passa do salário mínimo e continua pobre, mesmo a trabalhar, elencou. Sendo preciso agora “menos arrogância, mais soluções; menos soberba, mais humildade”e “virar a página da maioria absoluta” para resolver as crises, voltando assim à ideias de “amar o nosso país” e de “criar um Serviço Nacional de Cuidados que faça o que nunca foi feito, um serviço público para as pessoas com dependência, com apoio domiciliário para quem precisa, desde logo os idosos, vagas nos cuidados continuados, assistentes pessoais para pessoas com deficiência, terapias para as múltiplas patologias, uma rede de residências”.
Contra a cumplicidade dos governo europeus com o massacre de Gaza
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Marisa Matias, cabeça de lista pelo Porto, falou de Gaza “para que não se apague o genocídio também nas palavras” numa altura em que “assistimos a uma agressão impensável operada pelo Estado de Israel” em que “usaram a fome como arma de guerra”. Falava do massacre dos palestinianos que se dirigiam aos camiões de ajuda humanitária sobre os quais as forças sionistas dispararam numa ação “abjeta e inimaginável” e das dez crianças que nos últimos dias morreram “com fome e com sede” no território.
A atual eurodeputada criticou ainda a “cumplicidade” dos governos europeus perante “toda a evidência trazida pelo Tribunal de Haia e o recurso a armas europeias face à “total impunidade do governo que não olha a meios para aniquilar o povo”, apelando a “que nunca, nunca se confunda um regime colonial e sionista como o do governo israelita com o judaísmo e que nunca se permita que as atrocidades e os crimes cometidos pelo regime sionista possam alimentar discursos anti-semitas”.
Seria preciso “uma voz firme a favor do embargo às armas para Israel” dos países europeus, Portugal incluído, e do reconhecimento do Estado da Palestina. Pelo contrário, as pessoas que se manifestam não têm abandonado o povo palestiniano e “têm mostrado a total solidariedade e indignação pelo silêncio cúmplice em tantos países e têm exigido um cessar o fogo imediato e incondicional”.
Um voto sem medo contra quem tem medo que o medo acabe
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A atriz e encenadora Sara Barros Leitão lembrou várias das conquistas sociais desde há 50 anos. Um caminho de que “nos devemos orgulhar” com “imensos e extraordinários avanços” e a resistência aos “recuos e aos retrocessos” e um “trabalho” que “não está terminado” porque o “projeto coletivo” que é o mundo é um “projeto constante”.
Falou ainda medo de perder casa ou não conseguir emprego que é “normal” mas cuja resposta deve vir “sobre a forma como cuidamos uns dos outros”. E do “medo de voltar para um tempo que não queremos mais, dos retrocessos que poderão vir, nos direitos sobre o nosso corpo, direitos laborais e sociais, nas liberdades públicas”. A este, recorrendo à expressão “há quem tenha medo que o medo acabe”, contrapôs, para estas eleições, um “voto sem medo”, “nas convicções”.
A fidelidade para com a solidariedade
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O arquiteto Alexandre Alves Costa veio “saudar” a sua “família política” e “declarar a continuidade estrutural” da sua “fidelidade”, um compromisso de solidariedade “para com os milhões de homens a quem sabiamente se inculcou o medo, a genuflexão, o servilismo e também para com os que lutam a partir da consciência de humilhados”.
Essa fidelidade, afirma, fá-lo não desesperar da humanidade, “pede uma intransigência sem lacuna” e que “nunca me esqueça”. Posicionou-se assim contra o “sistema opressor” do mercado em que “a condição humana está a ser reduzida a uma espécie de automatismo condicionado para, paradoxalmente, ser o alimento do próprio sistema que oprime”.
E falou ainda de resistência e esperança, de democracia e liberdade, de solidariedade global e de “recuperar a dignidade da palavra revolução e retirá-la do pântano de arbitrariedades onde o inimigo a tentou afogar”, apelando aos presentes para que se sintam e sejam inventores, construtores de um mundo novo”.
Bloco, alternativa à direita dos retrocessos civilizacionais e ao Partido Socialista dos Negócios
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Ana Isabel Silva, candidata nas listas do Porto, defendeu que a campanha Bloco está a ser uma “campanha para combater o logro e a conversa do costume”. Referia-se à ideia da direita de que “é preciso primeiro crescer para depois distribuir” que se tenta impor apesar da “diferença entre quem tem mais e quem tem menos ser cada vez maior”. Criticou ainda a sua estratégia de “reduzir direitos laborais e dar borlas fiscais aos grandes grupos económicos”.
A partir da sua experiência de vivência em Santo Tirso, contou como o Vale do Ave, na altura da Troika, “foi a região onde se compraram mais automóveis de luxo e nem por isso deixou de ser uma das zonas com mais pobreza e onde a exploração laboral é o prato do dia”. E falou da realidade dos salários dos mais jovens em Portugal que “não chegam aos mil euros”, a “geração mais fustigada pela precariedade” que quer ser “a geração dos direitos e da igualdade”.
A candidata acredita que “são possíveis escolhas diferentes” e que “o voto no Bloco é o único voto que garante que não ficamos reféns apenas de dois cenários: Ou a direita, dos retrocessos civilizacionais ou do Partido Socialista dos Negócios”.