O caso de Beja é apontado como um dos mais emblemático de que Portugal viola princípios básicos de cidadania, e que fomenta a segregação étnica. O bairro das pedreiras, construído pela câmara municipal de Beja em 2006 para realojar cerca de 50 famílias ciganas, veio mesmo a revelar-se como um dos grandes símbolos de praticas que há muito deviam ter sido extintas em Portugal.
O muro e a vedação que inicialmente delimitavam o bairro não vieram acompanhados de outras infra-estruturas, há três quilómetros do centro da cidade o bairro não é servido por transportes públicos, os correios não entregam cartas, os contentores de lixo são esvaziados uma vez por semana e o canalizador só aparece com escolta policial. Em entrevista ao jornal Expresso o gerente da fábrica vizinha ao bairro, Gaspar Mendes Pinto, admite que a construção de muro de três metros de altura e um quilómetro de extensão, supostamente para delimitar o bairro e feito em parceria com a câmara municipal, tinha como objectivo “tapar a vista aos clientes quando eles vinham de visita”.
“Escondidos” atrás do muro estão dezenas de famílias que tiveram suas expectativas de-fraldas quando as diversas promessas feitas para os convencer em mudar para o bairro foram quebradas. A maior parte dos moradores vivia anteriormente no “Carmo Velho”, ou Bairro da Esperança, em casas bastante degradadas que posteriormente foram substituídas por novos apartamentos “a custos controlados”, onde agora nenhum cigano mora.
Segundo documentos aos quais o Expresso teve acesso, Francisco Cruz dos Santos, ex-presidente da câmara eleito pela CDU, afirma que este tipo de realojamento é feito contra a vontade da maioria da população, que “não entende por que é que se dá casa a ciganos”, defendendo ainda que o facto de todos terem sido realojados no mesmo local não se tratou de criar um gueto mas sim em manter relações de vizinhança.
O actual presidente, Jorge Pulido Valente, eleito pelo PS, afirma que estão a ser elaborados novos contractos “em que os direitos são acompanhados de deveres cívicos”, “Ao fim de quatro ou cinco anos de cumprimento, serão reintegrados caso a caso noutras zonas”, “Nós sabemos que nem os ciganos gostam de viver uns com os outros” declarou Pulido Valente ao Expresso.