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Como a Grécia foi enganada pelo Goldman Sachs

Uma investigação da agência Bloomberg recorda como um "empréstimo secreto" proposto em 2001 pelo gigante da banca de investimento, para mascarar o incumprimento grego dos critérios de Maastricht, acabou por aumentar a dívida do país ao Goldman Sachs de 2,8 para 5,1 mil milhões de euros. Os dois responsáveis pela gestão da dívida pública na última década reconhecem hoje que não sabiam o que estavam a assinar.
Goldman Sachs enganou os gregos duas vezes e estes vão trabalhar para pagar a dívida ao banco até 2037.

Pela primeira vez, dois dos protagonistas do lado do governo de Atenas dão a sua versão deste negócio ruinoso e confessam que não sabiam o que estavam a assinar num contrato repleto de cláusulas complexas. O objectivo do negócio proposto pelo Goldman Sachs - o banco onde trabalhava o actual primeiro-ministro grego Lucas Papademos - era camuflar o endividamento da Grécia em 2% do PIB, através duma complexa troca de dívida emitida em ienes e dólares por euros. Ao usar uma taxa de câmbio que não traduzia o valor de mercado do euro. a Goldman Sachs tornou-se credora de 2,8 mil milhões de euros. E no próprio dia em que o acordo era assinado, em junho de 2001, a fatura já tinha aumentado 600 milhões.

"Este negócio é uma história muito sexy entre dois pecadores", diz agora o responsável entre 1999 e 2004 pela Agência de Gestão da Dívida Pública grega, Christoforos Sardelis, que foi um dos responsáveis pelo negócio. Tal como o seu sucessor, Spyros Papanicolaou, defende que o país não sabia o que estava a comprar e não estava preparado para avaliar o risco e o custo futuro do negócio proposto pelo Goldman Sachs.

Sardelis disse ainda que bastaram três meses para perceber que o acordo não era tão bom como parecia à primeira vista. Com os atentados do 11 de setembro, a rendibilidade das obrigações caiu a pique e os gregos procuraram negociar uma alteração da fórmula utilizada pelo Goldman Sachs para calcular os reembolsos da Grécia ao longo do tempo. O banco de investimentos alterou a fórmula dos reembolsos para um produto financeiro derivado que aposta na inflação prevista na zona euro, mas a emenda ainda saiu pior. Em prejuízo dos gregos, reconhece Papanicolaou.

"O Goldman Sachs propôs-lhes uma alteração que na prática tornou as coisas ainda piores", diz o ex-responsável grego sobre o novo contrato assinado em 2002. Papanicolaou, que geriu a dívida grega entre 2005 e 2010, tenta desculpar o seu antecessor, ao dizer que "ele não podia fazer o que qualquer gestor de dívida faz quando recebe uma oferta, que é consultar o preço no mercado". E explica porquê: "Não o fez porque a Goldman Sachs lhe disse que se o fizesse, já não havia negócio". Obrigados pelo contrato a pagar 400 milhões anuais ao banco, os gregos procuraram reestruturar essa dívida em 2005, transferindo-a para o Banco Nacional da Grécia e aumentando o prazo de reembolso de 2019 para 2037.

Outro aspeto curioso do negócio é que ele foi proposto ao Estado grego pela figura cimeira do ramo de negócios europeus da Goldman Sachs, a grega Addy Loudiadis. Segundo Papanicolaou, o Estado confiou em Loudiadis porque foi ela que em 1999 os alertou para o mau negócio que lhes estava a ser proposto, com swaps em termos igualmente complexos, mas por um banco concorrente. Dois anos mais tarde foi ela a propor-lhes um contrato em que os três primeiros anos eram livres de reembolsos, que seriam pagos nos quinze anos seguintes. Parecia simples, mas foi ruinoso para a Grécia e altamente lucrativo para o Goldman Sachs.

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