O eurodeputado Miguel Portas considera que a greve geral de 24 de Novembro em Portugal representa “um aviso muito sério” ao governo mas também aos outros partidos porque teve “a compreensão ou o apoio da maioria da sociedade”, segundo os estudos de opinião, e representa um “desafio” ganho pelas duas centrais sindicais em conjunto “quando o conflito social é inevitável e nos encontramos perante uma maratona”.
Os sindicatos, disse Miguel Portas no seu comentário semanal no programa “Conselho Superior da Antena Um, “conseguiram impor uma greve generalizada nos transportes, importante na Administração Pública e eficaz em grandes empresas do sector privado, que são as que se podem comparar”. Este é um “aviso sério” ao governo que, no outro lado da greve geral, não tem nada para oferecer ao país e que se encarniça apenas na defesa da política de austeridade sem nenhum horizonte palpável para a vida das pessoas”; também “porque não é fácil pedir aos trabalhadores que percam um dia de salário” nestes tempos de crise.
Além de ser advertido desta maneira, o governo perdeu igualmente outro duelo, “ao cair na esparrela dos números”.
Segundo o eurodeputado da Esquerda Unitária (GUE/NGL) eleito pelo Bloco de Esquerda, os sindicatos fazem bem ao não divulgar números que são impossíveis de calcular porque o tecido económico português se caracteriza por numerosas pequenas e médias empresas e além disso é impossível saber quantas pessoas foram trabalhar querendo fazer greve, por medo ou pelos vínculos precários, e também quantas pessoas não foram trabalhar querendo ir, apenas porque não havia transportes.
“O governo, ao dizer que a percentagem de adesão foi 10,48 por cento e que não foram trabalhar 43592 pessoas, nem mais uma nem menos uma, tem uma atitude que releva de uma central de propaganda de amadores”, acrescentou.
Segundo Miguel Portas, o êxito da greve geral foi também um “sério aviso” ao PCP, ao Bloco de Esquerda e ao PS.
“Ao PCP e ao Bloco de Esquerda”, disse, “porque esta greve foi feita pelas duas centrais sindicais e não apenas por uma e as pessoas têm uma enorme vontade de união para se disporem a lutar - e sem união é que não lutam de certeza”.
Ao PS, explicou, “porque não é possível manter durante muito mais tempo a sua posição de nim, nem sim nem não, em relação à política do governo sem começar a suscitar sérias desconfianças na sua base eleitoral”.
Deixando a ideia de que o lançamento do “manifesto” de Mário Soares nas vésperas da greve pode ter sido uma chamada de atenção ao próprio PS, o eurodeputado acrescenta que este documento revela “compreensão aguda de que não se pode ter falta de comparência quando o conflito social é uma inevitabilidade e nos encontramos perante uma maratona”.
Em relação aos incidentes registados durante o dia, Miguel Portas sublinhou que “devem ser investigados”, que podem resultar de uma “coligação de vários factores” – “agentes provocadores, pequenos grupos desesperados e grupos políticos pequenos em busca de atenções mediáticas” – e se caracterizam por serem tentativas “de desviar as atenções do acontecimento principal”.
De qualquer forma, rematou, “não creio que mereçam mais do que um pequeno comentário”.