O Ministro Miguel Relvas, comentando a Greve Geral, tentou minimizá-la, atenuar as suas razões e usou uma palavra-chave: trabalhar. Dizia o Ministro que “compreendia a situação das pessoas, passamos por momentos muito difíceis, mas só temos uma solução trabalhar muito para sair da crise”.
Não deve ter sido por acaso que Miguel Relvas escolheu a palavra trabalhar, no exato dia em que parar e não ir trabalhar era o mote. Sabemos que muita gente, há mais ou menos seis meses atrás, considerou que não existia alternativa ao “pedido de ajuda” ao FMI/CE/BCE, e mais, até considerou que em troca dessa ajuda seriam necessários “sacrifícios”.
Mas hoje, a perceção de uma realidade ilusória que foi imposta ao país como inevitável, ao mesmo tempo que se ocultava a verdadeira dimensão desse chamado “sacrifício” está a mudar. Começa a ficar claro que a “ajuda” não é “ajuda”, mas sim um verdadeiro roubo e que nos meteram num autêntico remoinho que nos puxa cada vez mais para o fundo. As previsões mudam para pior a cada semana e até o Primeiro-Ministro elegeu como palavra de ordem o “empobrecimento”.
As pessoas percebem que estão em causa as suas condições de vida imediatas, mas também está em causa o futuro. As pessoas percebem que os “sacrifícios económicos” são acompanhados de um conjunto de medidas dirigidas a direitos fundamentais para que as coisas nunca mais sejam como foram até aqui. Os “sacrifícios” não são temporários e para o ano, a legislação do trabalho será mais agressiva para os trabalhadores e trabalhadoras, os despedimentos serão mais fáceis e mais baratos para os patrões, o subsídio de Natal e o subsídio de férias podem nunca mais ser pagos e o horário de trabalho vai aumentar.
E a Greve Geral, que foi um êxito, digam o Governo e os patrões o que disserem, é também demonstrativa não só daquilo que as pessoas sentem hoje, mas também do entendimento que fazem sobre a política que o Governo impõe.
Cabe agora aos sindicatos, às comissões de trabalhadores, aos diversos movimentos de precários, de reformados, de mulheres, de jovens, de desempregados, dar voz à indignação, mas também força a um movimento de rejeição deste caminho, força a uma alternativa política, que possa inverter a situação. A discussão do Orçamento de Estado tem provado de que existem alternativas que a maioria PSD/CDS não quer nem ouvir falar, porque está comprometida com um ataque global ao mundo do trabalho. E esta alternativa não se constrói com abstenções, por mais violentas que se anunciem, e com posições de meias-tintas face à greve geral, como faz o PS, quem assim age coloca-se fora da alternativa. O PS é parte do problema e não parte da solução.
A força da greve de dia 24 de Novembro não pode ficar por aqui. Tem que continuar, dia a dia, mas terá, certamente, que ser chamada a comparecer nas ruas noutra grande mobilização de greve geral, porque trabalhar, trabalhar, trabalhar para sair da crise é inverter o empobrecimento, é promover a economia, é tornar prioridade o combate ao desemprego.