Na véspera da abertura da última sessão de negociações para tentar alcançar um primeiro tratado mundial contra a poluição dos plásticos, que decorre esta terça-feira em Genebra, perto de três dezenas de cientistas de algumas das mais prestigiadas universidades do mundo lançam um apelo contra o que consideram ser “um perigo grave e crescente para a saúde humana e planetária”.
Os cientistas publicaram o relatório The Lancet Countdown on health and plastics no qual compilam os dados mais recentes sobre os impactos dos plástico na saúde e que pretendem passe a ser uma espécie de bússola global para documentar as evoluções deste tipo de poluição que tem sido, afirmam, um perigo “subestimado”.
Lembram que em cada etapa da sua existência, os plásticos originam doenças, estando na origem de pelo menos 35.000 mortes prematuras por ano só dos operários que trabalham nos locais de produção de polímeros por causa da exposição a químicos tóxicos. As populações nas imediações deste tipo de instalações também são afetadas, estimando-se que as partículas finas emitidas por esta indústria estejam a causar 158.000 mortes prematuras por ano.
Enquanto a produção de plásticos continua a aumentar exponencialmente e menos de 10% são reciclados, as comunidades que vivem perto dos locais onde estes acabam o seu percurso útil também são fortemente afetadas. As estimativas apontam para que 57% dos detritos plásticos sejam queimados a céu aberto e que 8 mil milhões de toneladas de resíduos plásticos continuem a poluir permanentemente o planeta.
Pelo meio, os consumidores não escapam aos perigos dos plásticos. Das 16.000 substâncias químicas que os compõem, dois terços não têm dados toxicológicos. Das que restam, cerca de três quartos, isto é mais de 4.200, são consideradas “altamente perigosas” e 1.500 cancerígenas, mutagénicas ou tóxicas para a reprodução. A exposição aos plásticos é associada a doenças como cancro, ataques cardíacos, obesidade, diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares, hipertensão, infertilidade, partos prematuros e redução das capacidades cognitivas.
Isto já para não falar nos micro e nanoplásticos cujos efeitos nefastos continuam a ser descobertos cada vez mais.
Tudo isto resulta naquilo a que os cientistas chamam uma “crise dos plásticos”. A ideia do “Lancet Countdown” para os plásticos segue um outro instrumento com o mesmo nome que mede as consequências das alterações climáticas na saúde e que vai produzindo relatórios anuais através do trabalho de uma centena de cientistas de 50 diferentes instituições académicas. Como esse Lancet Countdonw desempenhou “um papel-chave na decisão de integrear a saúde humana nas negociações anuais sobre o clima a partir da COP 28”, diz Philip J. Landrigan, o autor principal deste estudo, “o nosso objetivo é colocar a saúde no centro das discussões a crise dos plásticos que tem sido eclipsada durante muito tempo pela crise climática”, sendo afinal “duas crises maiores estritamente ligadas” porque ambas “decorrem de uma má utilização das energias fósseis”.