Cessar-fogo em Gaza já!

19 de dezembro 2023 - 11:15

Nesta tribuna, vários deputados europeus e dirigentes da esquerda progressista na Europa exigem um cessar-fogo imediato e permanente em Gaza e a libertação de todos os reféns.

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José Gusmão e Marisa Matias
José Gusmão e Marisa Matias numa manifestação pelo cessar-fogo em Gaza, na semana passada em Estrasburgo.. Foto The Left/Flickr

Em Gaza, as bombas voltam a chover sobre civis, crianças e hospitais, matando e destruindo tudo. O massacre indiscriminado a que assistimos a partir da Europa está a tornar-se cada vez mais intolerável. Embora a trégua de uma semana tenha sido obviamente bem-vinda, permitindo proteger os civis e expor a catástrofe humanitária, o recomeço dos combates é um sinal de que a situação não está a melhorar.

O conflito tem sido sangrento ao longo dos anos, mas desde o atroz ataque terrorista do Hamas contra civis israelitas, a 7 de outubro, a situação transformou-se numa catástrofe total. O bombardeamento incessante de Gaza pelas forças armadas israelitas conduziu a um cerco total de Gaza, privando 2 milhões de palestinianos de eletricidade, água, alimentos e combustível. Desde 7 de outubro, mais de 15.000 palestinianos foram mortos nos bombardeamentos israelitas, incluindo mais de 5.800 crianças. A idade mais comum das pessoas mortas em Gaza é de cinco anos. Jornalistas, funcionários da ONU, profissionais da saúde e das escolas, crianças e idosos: ninguém está a salvo.

Estes ataques constituem uma terrível punição coletiva contra o povo palestiniano e uma violação flagrante do direito humanitário internacional. Nada disto constitui, de forma alguma, um exercício do direito à auto-defesa.

Nós, deputados europeus e políticos oriundos de várias partes da esquerda progressista na Europa, exigimos um cessar-fogo imediato e permanente em Gaza e a libertação de todos os reféns. Apelamos a que o direito internacional seja respeitado e que os líderes mundiais trabalhem para pôr fim ao longo conflito entre Israel e a Palestina e para encontrar uma solução de dois Estados onde israelitas e palestinianos possam viver em paz e liberdade.

A situação, que faz parte de um conflito com 75 anos, tornou-se cada vez mais grave na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental. Um número cada vez maior de palestinianos tem sido morto por parte das forças de segurança israelitas e dos colonos. Dezenas de comunidades palestinianas foram atacadas e desalojadas à força. As prisões e detenções arbitrárias dispararam. Várias declarações de responsáveis israelitas, como a proposta de bombardear Gaza ou a comparação dos palestinianos a "animais humanos", indiciam a existência de um risco de genocídio do povo palestiniano.

O governo de Nethanyahu é o governo mais à direita que Israel já teve, e acreditamos que é por isso que Israel está agora a agir de forma tão indiscriminada. É extremamente preocupante que tantos sejam incapazes de, simultaneamente, se opor a todas as formas de racismo e, ao mesmo tempo, distanciar-se e criticar os Estados que atuam em violação do direito internacional.

Agora, a pressão sobre o Governo israelita tem de aumentar, a fim de reduzir o sofrimento dos palestinianos. Mas quando a UE começa finalmente a reagir, depois de um tão longo tempo de deliberação, apela a "pausas humanitárias" temporárias. Para os líderes da UE, o que a população de Gaza deve obter são pequenas pausas entre bombardeamentos, não um cessar-fogo permanente. 

A UE não pode continuar a olhar para o outro lado. O nosso continente sabe demasiado bem quão frágil é o fino véu da humanidade. A História julgará severamente os líderes da UE pelo seu apoio "incondicional" à carnificina do governo de extrema-direita de Israel.

Em 2022, quando confrontada com uma clara violação do direito internacional pela Federação Russa, a UE adoptou sanções bem-vindas e sem precedentes contra o governo russo. A UE deve estar preparada para fazer o mesmo e adotar todas as sanções necessárias contra Israel até que este cumpra plenamente o direito internacional, começando pela suspensão do Acordo de Associação UE-Israel. Temos também de levar Netanyahu e o seu círculo político mais próximo perante o Tribunal Penal Internacional pelos crimes de guerra que foram e continuam a ser cometidos.

Todos os reféns, prisioneiros políticos e crianças detidas devem ser imediatamente libertados, deve ser estabelecido um cessar-fogo permanente e o bloqueio de Gaza deve terminar. Os culpados de crimes devem ser investigados e julgados. Acreditamos que é possível uma solução de dois Estados, desde que exista vontade política, e que tanto os palestinianos como os israelitas devem ter a garantia de paz e segurança. Porque ninguém é livre enquanto não formos todos livres.

Durante demasiado tempo, a UE permaneceu impávida face ao sofrimento do povo palestiniano. Estamos aqui para dizer não mais.

Subscrevem:

Mariana Mortágua, Coordenadora do Bloco de Esquerda, Portugal

Marisa Matias, deputada europeia do Bloco de Esquerda, Portugal

Ana Miranda, deputada europeia do Bloco Nacionalista Galego

Chris MacManus, deputado europeu do Sinn Féin, Irlanda

Idoia Villanueva, deputada europeia do Podemos, Estado Espanhol

Ione Belarra, Secretária-Geral do Podemos, Estado Espanhol

Malin Bjork, deputada europeia do Partido de Esquerda da Suécia

Manon Aubry, deputada europeia da França Insubmissa e co-coordenadora do The Left, França

Manuel Bompard, Coordenador da França Insubmissa, França

Nikolaj Villumsen, deputado europeu da Aliança Vermelha e Verde, Dinamarca

Nooshi Dadgostar, líder do Partido de Esquerda, Suécia

Pelle Dragsted, Porta-Voz da Aliança Vermelha e Verde, Dinamarca

Pernando Barrena, antigo deputado europeu do EH Bildu, País Basco

Silvia Modig, deputada europeia da Aliança de Esquerda, Finlândia