Cerrar a guerra europeia contra o cancro

13 de setembro 2011 - 13:01

Centenas de especialistas das várias áreas de combate ao cancro estiveram reunidos durante três dias no Parlamento Europeu, em Bruxelas. Tratou-se de um dos primeiros encontros científicos realizados no PE e assentou no trabalho realizado pela eurodeputada Marisa Matias e pela delegação do Bloco de Esquerda.

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Centenas de especialistas das várias áreas de combate ao cancro estiveram reunidos durante três dias no Parlamento Europeu, em Bruxelas, para dinamizar o enorme potencial de cooperação que ainda há por desenvolver entre todos os sectores - dos legisladores aos pacientes passando pelas áreas clínicas e sociais - de modo a cerrar e tornar ainda mais eficaz o combate europeu à doença. O Simpósio, centrado na ideia da qualidade de vida dos pacientes com cancro, foi organizado pela Esquerda Unitária (GUE/NGL) no Parlamento Europeu e pela Organização Europeia para a Pesquisa e a Investigação do Cancro (EOPTC). Tratou-se de um dos primeiros encontros científicos realizados no Parlamento Europeu e assentou no trabalho realizado pela eurodeputada Marisa Matias e pela Delegação do Bloco de Esquerda no Parlamento Europeu.

“Foi um grande desafio”, declarou Marisa Matias ao fazer o balanço do congresso, “e também muito importante como informação para que os cidadãos possam utilizar o Parlamento Europeu como a sua casa para congressos”. A ideia nasceu há cerca de um ano no seio da Delegação do Bloco de Esquerda e concretizou-se agora abrindo novas perspectivas de trabalho e de cooperação entre todos os sectores envolvidos na luta contra o cancro.

Andrew Bottomley, presidente administrativo da EOPTC, que presidiu ao Simpósio realizado entre 7 e 9 de Setembro, salientou o facto de se tratar de um dos primeiros encontros científicos no Parlamento Europeu. “Atingimos os objectivos, tivemos um grande sucesso” ao criar bases para aprofundar a comunicação entre investigadores, pacientes e legisladores.

Durante os trabalhos ficou claro que a luta contra o cancro na Europa incide principalmente sobre a primeira fase, a da detecção e primeiros tratamentos, para a qual é encaminhada a grande maioria dos recursos disponíveis aos níveis de investigação e saúde pública. Aspectos como os ensaios clínicos, o acompanhamento, o prolongamento do tratamento, a reabilitação e a qualidade de vida dos pacientes com cancro não têm contado com esforço equivalente e, tendo em conta os avanços registados na luta contra a doença, são aspectos igualmente determinantes na realidade actual.

“Todos os anos são detectados três milhões de novos casos de cancro dos diferentes tipos na União Europeia”, disse Marisa Matias. “Em termos de políticas públicas há enormes falhas” e uma das principais é a de que “não são pensados o tratamento, a orientação da investigação e o financiamento dessas actividades desde a prevenção aos tratamentos”, acrescentou. Deu como exemplo o facto de 90 por cento dos recursos disponíveis serem dedicados à prevenção e tratamento inicial, uma distribuição que já não corresponde ao estado actual da luta contra a doença.

Segundo os dados existentes, actualmente a grande maioria dos doentes vivem muito mais tempo, colocando-se as questões do acompanhamento e qualidade de vida de uma forma muito mais premente.

“Temos que continuar a apostar muito forte na prevenção mas como pudemos ver ao longo deste congresso, através dos especialistas, também temos que apostar fortemente nos ensaios clínicos e na qualidade de vida”, disse Marisa Matias. “Através das intervenções de alguns doentes percebemos que há muito poucas respostas para as fases mais tardias e mais prolongadas da doença”, acrescentou.  

“Este simpósio foi uma grande oportunidade para que os legisladores, os grupos de doentes e os investigadores possam formar uma boa rede” porque “muitas vezes estamos a falar de diferentes ângulos e linguagens”, sublinhou Andrew Bottomley. “Temos esperança”, acrescentou, “em poder influenciar as futuras estratégias na investigação do cancro em termos de qualidade de vida”, rematou.

“Os legisladores europeus têm sempre muito que aprender com o contacto com o público, seja o público cientista, seja o público paciente”, comentou Joana Namorado, médica e investigadora portuguesa, uma das conferencistas do simpósio. “A legislação dos ensaios clínicos é muito importante, vai condicionar a indústria, vai condicionar tudo”, designadamente aspectos do impacto sobre o paciente e a qualidade de vida, que “é um dos indicadores mais importantes sobre os efeitos da indústria e da ciência”. Em última análise, prosseguiu Joana Namorado, “é absolutamente essencial para o legislador habituar-se a ter o contacto com aqueles que estão na base da sua actividade”, porque “o legislador só legisla para o público”.

Jan Geissler, paciente de leucemia e fundador de vários grupos de doentes, defende que é fulcral “trazer a voz dos pacientes para a legislação europeia”. Sublinhou que o cancro “é a principal epidemia na Europa pois cerca de um terço dos europeus poderão ter cancro ao longo da vida. “É preciso um esforço concertado do Parlamento, da Comissão, dos investigadores, da indústria e dos pacientes” porque “não têm trabalhado em conjunto para criar uma legislação centrada no paciente”.

Como exemplo das direcções de trabalho a realizar já num futuro próximo, Marisa Matias informou que o Parlamento Europeu se prepara em Outubro para reabrir o debate da Directiva sobre os Ensaios Clínicos, uma lei europeia que tem vindo a ser alvo de críticas e controvérsia.

“As visões dos especialistas e dos pacientes são extremamente importantes” nesse debate, considera a eurodeputada do Bloco de Esquerda, “e os contributos aqui apresentados foram excepcionais sob esse ponto de vista”.

Artigo publicado no portal do Bloco de Esquerda no Parlamento Europeu