O estudo da Cáritas “Pobreza e exclusão social em Portugal: uma visão da Cáritas”, apresentado esta terça-feira no âmbito da Semana Nacional, alerta para o facto de entre 2019 e 2023, não se terem observado "progressos significativos no combate à pobreza mais extrema em Portugal.” E que em “várias dimensões a situação até se deteriorou.”
O relatório anual sobre a pobreza e exclusão social em Portugal, que tem por base a análise dos indicadores oficiais do Instituto Nacional de Estatística (INE) e a leitura do Observatório da Cáritas sobre esta realidade, explica que a exemplo disso é o “aumento do número de pessoas em situação de sem-abrigo ou sem capacidade de manter a casa aquecida”.
Segundo dados do INE, em 2023 mais de 500 mil indivíduos viviam numa situação de privação material e social severa. “Em 2023, ainda havia 241 mil pessoas sem possibilidade de ter uma alimentação adequada; 712 mil sem capacidade de comprar roupa nova; um milhão sem capacidade de gastar uma pequena quantia consigo mesmo; mais de 2 milhões sem capacidade de manter a casa devidamente aquecida.”, lê-se no relatório da Cáritas.
No ano passado, "20,1% da população portuguesa vivia em risco de pobreza ou exclusão social, 17% em risco de pobreza, 12% em privação material e social e 4,9% em privação material e social severa. Assim, mais de 2,1 milhões de pessoas encontravam-se em risco de pobreza ou exclusão social, enquanto cerca de 500 mil vivia em privação material e social severa.”
Entre 2019 e 2023, apenas 64 mil pessoas deixaram de viver numa situação de privação material e social severa, quando entre 2015 e 2019 tinham sido 552 mil a sair da condição de “pobreza mais extrema”.
“Esta disparidade não deve ser atribuída diretamente à pandemia de 2020-21. A causa mais direta que explica o comportamento distinto na evolução da pobreza severa nestes dois períodos é a evolução do mercado de trabalho. O número de indivíduos numa situação de subutilização do trabalho (essencialmente desempregados e desencorajados) é um bom indicador para este efeito. Entre 2015 e 2019, houve uma diminuição de 470 mil pessoas em subutilização de trabalho, o que compara com uma diminuição de apenas 44 mil entre 2019 e 2023. Os progressos na luta contra a pobreza estiveram assim ancorados na maior participação no mercado de trabalho.”
A Cáritas alerta também para o aumento “acentuado nos últimos anos” dos pedidos de apoio por parte de imigrantes.
Rita Valadas, presidente da Cáritas Portuguesa, acredita que esta reflexão, “poderá ser um contributo para toda a sociedade, mas também para todos os decisores políticos que têm na sua atividade a possibilidade de desenhar políticas de resposta adequadas à resolução dos problemas daqueles que se encontram mais vulneráveis.”