Direitos

Bombeiros sapadores exigem dignidade nas escadarias do Parlamento

02 de outubro 2024 - 15:59

A manifestação ultrapassou o cordão policial. Os trabalhadores estão indignados com a falta de resposta do Governo a questões como a compensação face à subida da inflação, os suplementos de risco e a reforma antecipada.

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Sapadores na Assembleia da República
Sapadores na Assembleia da República

Uma manifestação de bombeiros sapadores ocupou esta quarta-feira as escadarias da Assembleia da República, tendo ultrapassado o cordão policial estabelecido. Estes trabalhadores lutam pela regulamentação do seu horário de trabalho, a idade de reforma aos 50 anos, um regime de avaliação específico e melhores condições de trabalho.

Ricardo Cunha, presidente do Sindicato Nacional dos Bombeiros Sapadores, disse à Lusa que se trata de reivindicar “acertos salariais para compensar o aumento da inflação, conforme foi atribuído às demais carreiras da função pública”, no valor de 104 euros.

O sindicalista recorda que “existiu um compromisso do anterior Governo” para esta compensação “com retroatividade a janeiro de 2023”, mas, “até à data, tal não aconteceu”.

Para além disso, exige-se ainda “a regulamentação da carreira, onde sejam contemplados os suplementos de risco, penosidade e insalubridade, bem como a disponibilidade permanente, em percentagem e à parte do vencimento”. Pretende-se ainda um horário de trabalho “a nível nacional que garanta a operacionalidade e a segurança dos bombeiros e daqueles que por eles são socorridos”.

A indignação dos trabalhadores ficou clara no protesto. Nas faixas com frases como "bombeiros sapadores em luta. Esqueceram-se de nós!... outra vez..." ou "sabes quem vai salvar o teu filho". Na presença de um caixão. Mas também no lançamento de petardos com pneus e uma farda de bombeiro a serem queimados. Aos gritos de “sapadores”, ultrapassaram as barreiras policiais.

O dirigente sindical explica que esta forma de protesto não estava prevista e “o que motivou isto foi o senhor secretário de Estado ter marcado uma reunião e, no fim, voltou a dizer que não tinha nada para apresentar”, culpando assim o Governo pelo sucedido no protesto.

Além disso, “os bombeiros sapadores foram das pessoas que mais perderam poder de compra comparativamente ao salário mínimo nacional. Em 2002, um bombeiro sapador ganhava 2,5 vezes o salário mínimo nacional e agora ganha pouco mais do que 50 euros acima do SMN. É lamentável não haver por parte dos governos uma resposta a estas solicitações dos bombeiros”.

Indignação dos sapadores é justa”

O líder do grupo parlamentar do Bloco de Esquerda, Fabian Figueiredo, este presente no protesto, colocando-se ao lado dos bombeiros sapadores. Para ele, a sua indignação “não surpreende” e “é mais do que justa”.

A “chamada de atenção” que fizeram serve para que “de uma vez por todas se trate estes homens e mulheres com respeito” já que eles “metem a sua vida em risco, sempre são chamados a intervir”.

Fabian Figueiredo e José Soeiro no protestos dos sapadores

O Bloco defende que “isto tem que ter tradução na lei e nos direitos”. Ou seja, “o mínimo que se pode fazer” é atribuir-lhes um “subsídio de risco digno, carreiras e salários dignos, reforma antecipada”.

Tal como os dirigentes sindicais já o tinham feito, o dirigente bloquista sublinha que “a despesa pública que isto representa é minúscula” porque se trata de cerca de 3 mil homens e mulheres.

Assim, “os bombeiros precisam mais do que palmas, precisam mais do que votos congratulação, precisam que as suas vidas tenham direitos”, conclui.