Palestina

“Banho de sangue”: Novo massacre de civis em Nuseirat

09 de junho 2024 - 11:40

Pelo menos 274 pessoas morreram no ataque ao campo de refugiados de Nuseirat. O regime de Netanyahu celebra a libertação de quatro detidos israelitas. Josep Borrel, rosto da diplomacia europeia, chama-lhe um “banho de sangue” e diz que isto tem de terminar “imediatamente”.

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Helicóptero israelita
Helicóptero israelita. Foto de ABIR SULTAN/EPA/Lusa.

As autoridades de saúde de Gaza indicam que pelo menos 274 pessoas foram mortas no ataque ao campo de refugiados de Nuseirat no sábado. Só nas instalações do hospital al-Awda há 142 mortos, como confirmou o diretor Marwan Abu Nasser, e no hospital dos mártires de Al-Aqsa há 94 de acordo com o porta-voz da unidade Khalil al-Degran. Haverá ainda mais de 600 feridos.

Israel justificou o ataque com a libertação de quatro israelitas detidos pelo Hamas mas este grupo contrapõe que um número indeterminado de reféns também terá sido morto por causa dele. De qualquer forma, o ambiente em Israel foi de celebração pública em alguns pontos. O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu aproveitou para declarar que vai continuar a guerra até todos os reféns serem libertados. E Yoav Gallant, ministro da Defesa, também elogiou a operação “ousada na natureza, planeada de forma brilhante e executada de forma extraordinária”, sem se referir à morte de civis palestinianos.

Aos grandes órgãos de comunicação social, o cenário descrito por testemunhas traça um quadro bem mais sombrio. Abdel Salam Darwish contou à BBC que estava no mercado a comprar vegetais quando ouviu aviões de combate a passar por cima e tiros: “depois, os corpos das pessoas ficaram em pedaços, espalhados pelas ruas, e o sangue manchou as paredes”. Outra das testemunhas, que já viu mais de 40 membros da família serem assassinados pelos ataques das forças sionistas desde outubro, conta que viu crianças e mulheres entrarem numa casa” depois “ocorreu o ataque bombista que ceifou a vida de todos que estavam dentro dela”.

À Reuters, um paramédico no local diz que "foi como um filme terror" e que "os drones e aviões de combate israelitas dispararam toda a noite aleatoriamente contra as casas das pessoas".

Na Al Jazeera, cita-se Tanya Haj-Hassan dos Médicos Sem Fronteiras que diz que no hospital al-Aqsa parecia um "matadouro" com pacientes, entre os quais crianças, por todo em "piscinas de sangue".

O jornal israelita Haaretz revela que quer as autoridades do seu país quer as dos EUA admitem que os norte-americanos estiveram envolvidos na recolha de informações que antecedeu o ataque. Também há imagens a circular nas redes sociais das forças israelitas que mostram que o cais construído pelos Estados Unidos, supostamente para ajuda humanitária, a ser utilizado como parte da operação. Vários palestinianos contam ainda que os militares sionistas se disfarçaram de trabalhadores humanitários para invadir o campo de refugiados de forma mais eficaz.

Oficialmente, os EUA não confirmam um envolvimento direto. Mas o presidente norte-americano Joe Biden, em Paris, deixou claro o que pensava do ataque ao declarar “saudar o resgate dos quatro reféns que foram devolvidos às famílias em Israel” e dizendo que “não vamos parar de trabalhar até que todos os reféns voltem a casa e o cessar-fogo seja alcançado”. Sobre os civis palestinianos mortos também ele não disse nada.

“Banho de sangue”

O máximo representante diplomático da União Europeia, Josep Borrell, escreveu na rede social X que “os relatórios de Gaza sobre outro massacre de civis são terríveis. Condenamos isto nos termos mais veementes. O banho de sangue deve terminar imediatamente.” Numa publicação anterior tinha referido: “Partilhamos o alívio das suas famílias e apelamos à libertação de todos os reféns restantes”.

Na manhã deste domingo, as forças armadas israelitas confirmavam através do seu canal de Telegram que continuavam os ataques em zonas como Deir al-Balah e Bureij, a leste, na cidade de Rafah e em Gaza central. Para além disso, reivindicam ainda ataques no sul do Líbano ao que chamam alvos do Hezbollah.