Banco de Portugal sabia do buraco do GES no ano passado

11 de outubro 2014 - 11:27

Seis meses antes de tranquilizar os potenciais investidores no aumento de capital do BES, Carlos Costa já tinha conhecimento que as contas dos Espírito Santo ocultavam dívida e sobrevalorizavam ativos.

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Carlos Costa soube do buraco nas contas do BES seis meses antes de recomendar o investimento em ações no aumento de capital do BES. Foto José Sena Goulão/Lusa

O semanário Expresso revela este sábado a correspondência trocada no início de dezembro de 2013 entre o então vice-governador do Banco de Portugal, Pedro Duarte Neves, e Ricardo Salgado, na qualidade de presidente do Espírito Santo Financial Group. Numa das cartas, o Banco de Portugal pede uma “explicação detalhada sobre as razões da diferença identificada nas contas da Espírito Santo International (€1,3 mil milhões, referentes a dezembro)” e do valor de alguns ativos do grupo, “designadamente a Real Estate Investments (€240 milhões) e Investment Projects (€841 milhões)”.

Hoje sabe-se que Carlos Costa conhecia o problema pelo menos seis meses antes antes de dar estas garantias públicas, mas não tomou de imediato nenhuma medida para inibir os responsáveis do grupo de continuar a desenvolver atividade no setor financeiro. Salgado e a sua equipa continuaram mais seis meses ao leme do BES e o buraco só aumentou desde então.

Estes ativos nunca chegaram a ser identificados, pelo que a soma da dívida ocultada e dos ativos inexistentes ascendia a 2,4 mil milhões. Na carta de 23 de dezembro, o regulador fez algumas exigências para “proteger o BES dos riscos ligados aos problemas no GES”, mas o Grupo Espírito Santo não executou essas recomendações.

Quatro meses depois de conhecer a dimensão do buraco das contas da ESI, o Banco de Portugal deu luz verde ao aumento de capital do BES, cujo prospeto não identificava o valor desse buraco, limitando-se a falar em ocultação materialmente relevante das contas. E já no verão, o governador do Banco de Portugal veio dizer que havia uma almofada financeira mais do que suficiente para o BES acomodar a dívida ocultada. Garantindo que o BES era um banco sólido, expressão depois repetida quer pelo primeiro-ministro quer pelo Presidente da República, a garantia do Banco de Portugal levou muitas pessoas a aplicar as suas poupanças no capital de um banco condenado a abrir falência a curto prazo.

Hoje sabe-se que Carlos Costa conhecia o problema pelo menos seis meses antes antes de dar estas garantias públicas, mas não tomou de imediato nenhuma medida para inibir os responsáveis do grupo de continuar a desenvolver atividade no setor financeiro. Salgado e a sua equipa continuaram mais seis meses ao leme do BES e o buraco só aumentou desde então. As responsabilidades do Banco de Portugal também estão na agenda da Comissão Parlamentar de Inquérito ao BES e o Bloco de Esquerda já requereu toda a correspondência - incluindo emails - trocada entre os responsáveis do banco e do regulador.