A astúcia dos bancos alemães

25 de novembro 2010 - 23:00

O presidente do Deutsche Bank quer que a Europa ajude a Irlanda – porque fazendo-o está a ajudar os bancos alemães, que são o segundo maior credor da Irlanda, logo a seguir aos ingleses. Por Lisa Nienhaus e Christian Siedenbiedel.

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Josef Ackermann, presidente do Deutsche Bank

Segundo um artigo publicado com o título acima referido no jornal diário Süddeutsche Zeitung, o presidente do conselho de administração do Deutsche Bank, Josef Ackermann esteve de visita em Bruxelas, encontrou-se com o presidente da Comissão, com o presidente do Conselho e com o comissário europeu para o Mercado Interno e Serviços, deixando o recado de que “a Europa tem que ser preservada como unidade e não pode caircomo vítima de interesses económicos de curto prazo”.

Ora, como no artigo se nota, declarações tão entusiásticas sobre a União Europeia vindas da parte de um cidadão suíço – o Sr. Ackermann, embora presidente do Deutsche Bank, é suíço–são de estranhar e têm naturalmente um outro significado. O que os recados do Sr. Ackermann querem realmente dizer é que a Europa deve ajudar a Irlanda – porque fazendo-o está a ajudar os bancos alemães, que são o segundo maior credor da Irlanda, logo a seguir aos ingleses. Os bancos alemães concederam créditos de mais de 100.000 milhões de euros à Irlanda, entre os quais 40.000 milhões a bancos irlandeses.

Este contexto torna-se tanto mais evidente quando um economista com o prestígio de Hans-Werner Sinn, o director do Ifo - Instituto de Investigação Económica junto da Universidade Munique, não tem dúvidas em afirmar que a “Irlanda nem precisa de ajuda, nem está em situação de bancarrota. São os bancos que dramatizama situação, para provocar os efeitos políticos desejados.”

Ora, o que é os bancos alemães têm em vista, ou seja, o que é que leva o Sr. Ackermann a ser tão entusiasta da União Europeia e da ajuda à Irlanda? É que, a partir do momento em que a UE transfere verbas para a Irlanda, torna-se mais seguro voltar a fazer aplicações na Europa e os bancos voltam a realizar maiores negócios. E isto por três vias.

A primeira, porque assegurada pela UE a solvabilidade do país devedor, protegem os respectivos balanços, na medida em já não vão ter que contabilizar possíveis perdas em créditos concedidos. A segunda, porque com os seus balanços desta forma indirectamente saneados, continuam livres para emprestarem o dinheiro dos seus depositantes da forma que lhes der mais rendimento. E a terceira, porque os juros que negociaram para os títulos da dívida do país foram mais elevados, com a justificação de que o risco da dívida era maior. E agora, com a ajuda da UE, o grau de risco mais elevado da dívida, ao fim e ao cabo, deixa de existir – mas os juros negociados como se ele existisse mantêm-se.

Fonte: Lisa Nienhaus e Christian Siedenbiedel, Irland-Krise –„Die List der deutschen Banken“, em Süddeutsche Zeitung, edição online de 22 de Novembro de 2010, www. sueddeutsche.de., síntese e tradução de João Alexandrino Fernandes.