Apple denunciada pela brutal exploração laboral nas fábricas que produzem o iPhone

26 de setembro 2015 - 17:45

A organização Sacom, sediada em Hong-Kong, denunciou que a Lens Technology, a empresa que fabrica os ecrãs táteis dos smartphones da Apple obriga os trabalhadores a horas extraordinárias forçadas, paga salários inferiores ao estabelecido e com atraso e põe em risco a saúde dos trabalhadores

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Empresa que fabrica os ecrãs táteis dos smartphones da Apple obriga os trabalhadores a horas extraordinárias forçadas, paga salários inferiores ao estabelecido e com atraso e põe em risco a saúde dos trabalhadores - Foto de sacom.hk

A Sacom - Students and Scholars Against Corporate Misbehaviour (Estudantes e Académicos contra a Má Conduta Empresarial) é uma organização sediada em Hong-Kong, que tem uma campanha sobre a Apple desde 2010.

A organização divulgou o seu mais recente relatório sobre as condições laborais dos trabalhadores que produzem os ecrãs táteis para a Apple (nas fábricas da empresa Lens Technology), no dia em que o iPhone6 foi posto à venda. O documento tem o título “Throw Away the Bad Apple – Investigation of Lens Technology” (“Deite fora a Má Apple – investigação sobre a Lens Technology”) e o relatório completo pode ser acedido aqui.

A Sacom começa por destacar que a Apple teve 92% dos lucros da indústria mundial de smartphones, no primeiro trimestre de 2015, sendo a mais valiosa empresa do mundo no setor. Sublinha também que a Lens Technology é uma das maiores fornecedoras da Apple e está a crescer extraordinariamente. A presidente da empresa chinesa é Zhou Qunfei que se tornou a mulher mais rica da China, depois da empresa ser cotada na bolsa de Shenzhen.

A Sacom investigou as condições de trabalho em três fábricas da Lens Technology, em Shenzhen, na província de Guangdong, em Langli, na província de Hunan, e em Liuyang, na província de Hunan, entre janeiro e junho de 2015.

A organização concluiu dessa investigação que:

1. Salários inferiores ao apontado. Os salários dos trabalhadores indicados nos contratos de trabalho são o salário mínimo de cada região, inferior aos salários anunciados e efetivamente pagos. A organização alerta que este desfasamento vulnerabiliza os trabalhadores em caso de acidente de trabalho, doença ou deslocalização da fábrica.

2. Horas extraordinárias forçadas. Entre novembro de 2014 e março de 2015, os trabalhadores foram obrigados a trabalhar mais três horas de trabalho por dia e descansando apenas um dia em cada duas semanas. Um trabalhador disse aos investigadores que trabalhou 110 horas extra num mês, enquanto a lei chinesa estabelece um máximo de 36 horas de trabalho extraordinárias num mês e o “código de conduta” da Apple aponta um máximo de 60 horas de trabalho semanais, incluindo as horas extraordinárias.

3. Retenção de salários. Os salários mensais dos trabalhadores da Lens Technology são pagos com um atraso de 20 dias em média (retenções entre 15 e 30 dias).

4. Condições de trabalho prejudiciais à saúde. Além do excesso de trabalho, os trabalhadores estão expostos ao benzeno, uma substância cancerígena, e têm problemas com água poluída, pó, ruído e outras substâncias químicas.

A Sacom insta a Apple a “cumprir a sua responsabilidade” e a garantir aos trabalhadores dos seus fornecedores “um local de trabalho com dignidade e respeito”.