A Plataforma 27 de Maio, que junta a Associação 27 de Maio, a Associação M-27 e o Grupo de Sobreviventes da repressão de 1977, anunciou a sua recusa em participar na homenagem marcada pela CIVICOP (Comissão para a Implementação do Plano de Reconciliação em Memória das Vitimas dos Conflitos Políticos), presidida pelo ministro da Justiça e dos Direitos Humanos. A homenagem prevê uma romagem ao Cemitério de Santa Ana, seguindo-se a ida até à estátua de Agostinho Neto, na Praça da Independência, onde será depositada uma coroa de flores e feita a entrega de dois certificados de óbito a duas órfãs, além de vários discursos. Aos participantes serão distribuídas camisolas e bonés com a frase “Abraçar e Perdoar”.
“Pretendem a CIVICOP e o Governo passar uma esponja sobre os massacres que vitimaram milhares de angolanos. Pretende-se, sobretudo, passar a imagem de que tudo ficará resolvido, a reconciliação será feita e o perdão concedido, não havendo responsáveis pelos crimes hediondos nem busca da Verdade Histórica”, aponta a Plataforma no comunicado em que anuncia a decisão de “nos afastarmos definitivamente dos trabalhos desta entidade”.
Para a Plataforma 27 de Maio, “a verdadeira homenagem que as vítimas merecem deveria começar com um pedido de perdão público do Sr. Presidente da República”, à semelhança do que fez o Papa Francisco pela passividade da Igreja Católica no genocídio do Ruanda. “No caso de Angola, não houve passividade mas autoria nos massacres”, acrescentam.
Entre as exigências da Plataforma, entregues em julho mas até agora recusadas pela comissão de reconciliação, estão a realização de uma investigação isenta e célere, a identificação dos responsáveis pelos crimes cometidos, que os agentes da repressão deixem de ser considerados vítimas e que seja dada prioridade à localização dos restos mortais das vítimas, certificação pelo teste de ADN, emissão das respetivas certidões de óbito e a sua devolução às famílias.
A realização desta “encenação teatral programada para o dia 27 de Maio” foi a gota de água a levar à rotura da Plataforma com a CIVICOP, a quem chamam de “uma criação e um instrumento do regime”.