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Angola: Dois ativistas presos terão tentado suicídio

Jovem diz que a sua vida e a dos outros presos “não têm nenhum valor” porque dependem “inteiramente do presidente da República”. Bloco Democrático afirma que prisões são o culminar do crescendo de repressão que se vem abatendo sobre os jovens ativistas.
Nito Alves, um dos 15 jovens presos.

Dois dos 15 ativistas detidos em Angola, desde junho, sob a acusação de tentativa de golpe de Estado, terão tentado suicidar-se na prisão, disse ao site Rede Angola Adolfo Campos, do Movimento Revolucionário.

Na última segunda-feira, Albano Evaristo, conhecido por Bingo-Bingo, tentou enforcar-se na cela da prisão de Calomboloca. Segundo uma notícia da Voz da América, o diretor da cadeia, António Joaquim Fortunato, terá passado a informação ao ativista Raul Mandela, que esteve naquele estabelecimento prisional. Bingo-Bingo justificou a sua decisão afirmando que a sua vida e a dos outros presos “não têm nenhum valor” porque dependem “inteiramente do presidente da República, José Eduardo dos Santos”.

Entre os motivos que estariam a levar os jovens ao suicídio está o isolamento ao qual estão a ser submetidos desde que foram detidos, além da falta de condições básicas de higiene a que são sujeitos.

Segundo Adolfo Campos, entre os motivos que estariam a levar os jovens ao suicídio está o isolamento ao qual estão a ser submetidos desde que foram detidos, além da falta de condições básicas de higiene a que são sujeitos.

“A primeira vez foi o Fernando Tomás ‘Nicola’. Foi logo nos primeiros dias de detenção. Ele pensava que estava sozinho. Conseguimos falar com ele e acalmou um pouco. Agora o Bingo-Bingo tentou suicidar-se, mas estamos a envidar esforços para o poder acalmar um pouco. Quando começámos a pressionar do lado de fora, meteram sabonetes, toalhas, novos lençóis, tentaram dar condições mínimas para parecer que estava tudo bem, só que agora retiraram tudo. Os agentes dos serviços prisionais estão a fazer muita pressão psicológica para poder amedrontá-los e eles continuam na solitária”, explicou ao RA.

Militante do Bloco Democrático chamado a depor

Filomeno Vieira Lopes, da Comissão Política do Bloco Democrático, foi notificado pelo Serviço de Investigação Criminal para ser ouvido por “assuntos que lhe dizem respeito”, fazendo a notificação menção ao processo dos 15 ativistas.

O secretário geral daquele partido de oposição, João Baruba, criticou o facto de no documento não constar em quais condições Filomeno Vieira Lopes será ouvido, se como arguido ou como declarante.

Referindo-se às diversas declarações feitas na semana passada por membros do governo de que os 15 detidos não são presos políticos, João Baruba disse que a convocatória demonstra o contrário. “O decorrer dos factos mostra que trata-se de um processo político. Isso mostra que trata-se realmente de presos políticos”.

Punir o facto de os jovens terem ideias”

Em comunicado, o BD afirma que o que se pretende com a detenção ilegal dos jovens “não é punir factos criminais antecipada e taxativamente previstos pelo Código Penal ou numa Lei, praticados por titulares de cargos políticos, mas, sim, punir o facto de os jovens terem ideias, punir as ideias dos jovens”.

O BD recorda que a presente detenção “é o culminar do crescendo de repressão que, desde 2011, se vem abatendo sobre vários sectores da vida nacional, mas, sobretudo, sobre os jovens ativistas que têm sido vítimas de atos de vandalismo, de excesso de poder, de prepotência, de prisão ilegal e de barbária, violenta, desnecessária e gratuita violação dos direitos, liberdades e garantias consagradas constitucionalmente”.

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