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Administração Trump discutiu rapto de Assange em 2017

Uma reportagem publicada este fim de semana revela que Mike Pompeo, diretor da CIA a partir do início do mandato de Trump, deu carta branca à agência para planear cenários de rapto e assassinato do fundador da Wikileaks.
Trump e Mike Pompeo
Trump e Mike Pompeo em 2019, quando este já ocupava o lugar de chefe da diplomacia dos EUA. Foto Shealah Craighead/Casa Branca/Flickr

Julian Assange continua detido numa prisão inglesa à espera que o tribunal decida sobre o recurso norte-americano para efetuar a sua extradição para os Estados Unidos. A saúde física e mental do fundador do Wikileaks está muito debilitada e esse tem sido um dos argumentos da defesa para evitar que Assange seja entregue aos EUA.

A reportagem publicada pela Yahoo News este domingo pode dar mais argumentos à defesa de Assange, ao revelar que altos funcionários da administração Trump - e provavelmente o próprio ex-presidente - discutiram os cenários de rapto e assassínio de Julian Assange, quando este estava confinado na embaixada do Equador em Londres.

Estes planos foram pedidos por Mike Pompeo, nomeado por Trump para dirigir a CIA, na sequência da divulgação por parte da Wikileaks de inúmeras ferramentas usadas pela agência de informações norte-americana para intrusão e hacking de aparelhos como telemóveis, computadores e televisões. A revelação, com o nome de código “Vault 7”, foi considerada a maior fuga de dados da história da CIA e constituiu um enorme embaraço para a organização.

Por esta altura, a CIA já via tudo o que se passava no interior da embaixada onde Assange se encontrava, ao dispor da vigilância audio e vídeo fornecida pela empresa espanhola de segurança contratada pela embaixada. Em dezembro de 2017, aperceberam-se dos planos do Equador para dar um passaporte diplomático a Assange, permitindo-lhe sair da embaixada rumo a outro país, neste caso a Rússia. A proposta viria a ser recusada pelo próprio Assange, mas a CIA desconfiava de que a Rússia teria planos para retirar Assange da embaixada.

Para impedir uma eventual fuga, os cenários discutidos em conjunto com as autoridades britânicas iam desde abalroar a viatura (provavelmente com matrícula diplomática russa) em causa, sobrevoar o avião com helicópteros ou disparar contra os pneus. E, no caso improvável de conseguir levantar voo, pressionar os países europeus a negarem autorização de sobrevoo do seu espaço aéreo.

Todos estes cenários, incluindo o do rapto de Assange no interior da embaixada com a colaboração da empresa de segurança espanhola, estiveram em debate, mas nenhum acabou por avançar pelos riscos legais que iriam acarretar numa altura em que o Departamento de Justiça preparava a acusação contra Assange. A acusação foi divulgada logo após o Equador ter despejado Assange da embaixada, entregando-o à polícia britânica, e está baseada apenas nos acontecimentos de 2010, quando o fundador do Wikileaks terá ajudado Chelsea Manning a obter acesso a documentos confidenciais da diplomacia americana, que seriam depois revelados ao mundo sob o nome de “Cablegate”, abrindo caminho às revoltas das “primaveras árabes”. Esses telegramas das embaixadas estão hoje disponíveis juntamente com muitos outros documentos numa página que a organização chama de ”Biblioteca Pública da Diplomacia dos EUA”.

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