Adelino Fortunato

Adelino Fortunato

Economista e professor universitário. Dirigente do Bloco de Esquerda.

Sem perspetiva histórica, sem projeções de futuro a política degenera no simples cálculo administrativo e no jogo das ambições. É o colapso do pensamento estratégico, da articulação de vontades e da dimensão ética no combate às injustiças.

A derrota da esquerda não é simplesmente uma derrota eleitoral, conjuntural, recuperável no curto prazo, mas sim uma confirmação da sua dificuldade em se bater por um projeto de sociedade alternativo para superar duradouramente os flagelos que o capitalismo impõe hoje à maioria da população mundial.

A esquerda para voltar a ganhar precisa de fazer reviver uma chama que se esbateu muito nos últimos tempos e de trazer para o debate público uma novidade mobilizadora. Essa novidade deveria ser alavancada na ideia de unidade da esquerda para derrotar a direita.

2024 poderá ser um ano de viragem, ou não. Resta à esquerda ter a inteligência de saber lidar com as expectativas de milhões de portugueses e portuguesas que querem comemorar os 50 anos do 25 de Abril com esperança.

Muita gente não entendeu o real significado do atual conflito institucional entre o Presidente da República e o Primeiro-Ministro, vendo nele apenas uma espécie de birra ou de confronto de personalidades. Na realidade, em política não há birras, mas sim disputa pelo controlo do poder e pela hegemonia.

Na sua formulação mais abrangente, a teoria da(s) “luta(s) de classes“ configura uma teoria geral do conflito social pelo reconhecimento, isto é, pela abolição da exploração e exclusão que humilham e esmagam a dignidade humana.

A crise do Estado-Nação, a perda de legitimidade do sistema de representação, juntamente com as transformações mais penalizadoras do mercado de trabalho e as políticas neoliberais criaram uma enorme fragilidade nos sistemas políticos contemporâneos.

A maioria da CPI, procurando encontrar os argumentos factuais que poderiam ajudar a derrubar os responsáveis pela tutela política da TAP, entrou por vezes no terreno da terra-queimada e do esvaziamento político que favoreceu o discurso populista e afastou a atenção da maioria da opinião pública.

A amplitude geográfica das causas, dos grupos sociais envolvidos e de perspetivas de ação são barreiras que vão continuar a dificultar a emergência de um movimento global capaz de propor um novo modelo de sociedade. Isso só significa que não se deve abandonar este combate, ele é inadiável.

A grande incógnita é a de saber se os objetivos incontornáveis da transição ecológica são compatíveis com o regime de crescimento económico que sustenta as sociedades contemporâneas.